2 de agosto de 2016 Artist Image

100ª Apresentação – 1983

  • Linha de Passe

    Autores: João Bosco, Paulo Emílio & Aldir Blanc

    Toca de tatu, lingüiça e paio, boi zebú,
    rabada com angú, rabo de saia.
    Naco de perú, lombo de porco com tutu
    e bolo de fubá, barriga d´água.
    Há um diz que tem e no balaio tem também
    um som bordão bordando o som, dedão, violação.
    Diz um diz que viu e no balaio viu também
    um pega lá no toma lá dá cá do samba.
    Caldo de feijão, um vatapá, um coração.
    Boca de siri, um namorado, um mexilhão.
    Água de benzê, linha de passe, um chimarrão,
    Babaluaê, rabo de arraia e confusão...
    Valeu, valeu, Dirceu do seu gato deu...
    Cana e cafuné, fandango e cassulê,
    sereno e pé no chão, bala, candomblé,
    e meu café, cadê? Não tem, vai pão com pão.
    Já era a Tirolesa, o Garrincha, a Galeria,
    a Mayrink Veiga, o Vai-da-Valsa, e hoje em dia
    rola a bola, é sola, esfola, cola, é pau a pau,
    e lá vem Portellas que nem Marquês de Pombal.
    Mal, isso assim vai mal, mas viva o carnaval,
    Lights e sarongs, bondes, louras, King-Kongs,
    meu pirão primeiro é muita marmelada,
    puxa-saco, cata-resto, pato, jogo-de-cabresto
    e a pedalada quebra outro nariz,
    na cara do juiz.
    Aí, há quem faça uma cachorrada
    E fique na banheira, ou jogue pra torcida,
    Feliz da vida.

  • Siri Recheado e o Cacete

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Sai com a patroa pra pescar
    no canal da Barra uns siris pra rechear
    siri como ela encheu de me avisar
    era o prato predileto do meu compadre Anescar
    levei arrastão e três puçás
    um de cabo outros dois de jogar
    de isca um sebo da véspera, e pra completar cachaça Iemanjá
    birita que dá garantia de ter maré cheia
    choveu siri do patola, manteiga, azulão, um camaleão,
    no tapa a minha patroa espantou três sereias.
    Na volta ônibus cheio o balde derramou
    em pleno coletivo um gato se encrespou
    o velho trocador até gritou: - não bebo mais!
    Siri passando em roleta, mesmo pra mim é demais!
    De medo o motorista perdeu a direção
    fez um golpe de vista, raspou num caminhão
    pegou um pipoqueiro, um padre, entrou num butiquim
    o português da gerência, quase voltou pra Almerim...
    Quiseram autuar nossos siris
    mas minha patroa subornou a guarnição
    então os cana-dura mais gentis
    levaram a gente e os siris pra casa na Abolição
    depois do "te logo", "um abração"
    fui botar os siris pra ferver
    dentro da lata de banha
    era um tal de chiar, pagava pra ver
    tranqüilo o compadre Anescar colocando o azeite
    foi um trabalho de cão, mas valeu o suor
    croquete, bobó, panqueca, siri recheado, fritada e o cacete.
    O Anescar chegou com uma de alambique
    me perguntou se eu era Mendonça ou Dinamite
    abri uma lourinha, trouxe um prato de croquete
    o Anescar mordeu um, feito que come gilete
    baixou minha patroa: Anesca, que qui há?
    O Anescar gemeu
    ¾ dieta de lascar
    o médico mandou que eu coma tudo que pintar
    até cerveja e cachaça
    menos os frutos do mar.

  • Coisa Feita

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Sou bem mulher
    de pegar macho pelo pé
    reencarnação
    da princesa do Daomé.
    Eu sou marfim
    lá das minas do Salomão,
    me esparramo em mim
    lua cheia sobre o carvão.
    Um mulherão,
    balangandãs, cerâmica e sisal,
    língua assim
    a conta certa entre a baunilha e o sal,
    fogão de lenha,
    garrafa de areia colorida,
    pedra-sabão,
    peneira e água boa de moringa.
    Sou de arrancar couro,
    de farejar ouro,
    Princesa o Daomé.
    Sou coisa feita,
    se o malandro se aconchegar
    vai morrer na esteira
    maré sonsa de Paquetá.
    Sou coisa benta,
    se provar do meu aluá
    bebe o Pólo Norte
    bem tirado do Samovar.
    Neguinho assim, ó!
    Já escreveu atrás do caminhão:
    "mulher que a gente não se esquece
    é lá do Daomé".
    Faço mandinga,
    fecho os caminhos com as cinzas,
    deixo biruta, lelé da cuca,
    zuretão, ranzinza...
    Pra não ficar bobo
    Melhor fugir logo,
    sou de pegar pelo pé.
    Sou avatar, Vodu,
    sou de botar fogo,
    Princesa do Daomé.

  • A Nível de

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Vanderley e Odilon
    são muito unidos
    e vão pro Maracanã
    todo domingo
    criticando o casamento
    e o papo mostra
    que o casamento anda uma bosta...
    Yolanda e Adelina
    são muito unidas
    e fazem companhia
    todo domingo
    que os maridos vão pro jogo.
    Yolanda aposta
    que assim a nível de Proposta
    o casamento anda uma bosta
    e a Adelina não discorda.
    Estruturou-se um troca-troca
    e os quatro: hum-hum... oqué... tá bom... é...
    Só que Odilon, não pegando bem a coisa,
    agarrou o Vanderley e a Yolanda ó na Adelina.
    Vanderley e Odilon
    bem mais unidos
    empataram capital
    e estão montando
    restaurante natural
    cuja proposta
    é cada um come o eu gosta.
    Yolanda e Adelina
    bem mais unidas
    acham viver um barato
    e pra provar
    tão fazendo artesanato
    e pela amostra
    Yolanda aposta na resposta.
    E Adelina não discorda
    que pinta e borda com o que gosta.
    É positiva essa proposta
    de quatro: hum-hum... oquéi... tá bom... é...
    Só que Odilon
    ensopapa o Vanderley com ciúme
    e Adelina dá na cara de Yoyô...
    Vanderley e Odilon
    Yolanda e Adelina
    cada um faz o que gosta
    e o relacionamento... continua a mesma bosta!

  • Kid Cavaquinho

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Oi que foi só pegar no cavaquinho
    Pra nego bater
    Mas seu contar o que é que pode um cavaquinho
    Os home não vão crer:
    Quando ele fere, fere firme
    E dói que nem punhal
    Quando ele invoca até parece
    Um pega na geral
    Genésio!
    A mulher do vizinho
    Sustenta aquele vagabundo
    Veneno é com meu cavaquinho
    Pois se eu to com ele
    Encaro todo mundo
    Se alguém pisa no meu calo
    Puxo o cavaquinho
    Pra cantar de galo

  • Comissão de Frente

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Os heróis eram quatro
    Os três dias são quatro
    É a hora do pato
    É a onda e o mato
    É o ato e o fato
    O Tancredo e o Pinto
    O Morcego e o Clóvis
    O Arcanjo e o Diabo
    Fralda cor de abacate
    Beijo no guardanapo
    É Zumbi no repique
    Grega dando chilique
    Índio de esparadrapo
    Marajós de Irajá
    Ícaros de Icaraí
    E sandália havaiana
    Chope, coxa e bagana
    Um palhaço na maca
    Legionários, miragens
    Sheik de pilantragem
    Frescuragem de paca
    O rei-Sol chama Zeca
    Tirolês de cueca
    E um rebanho de vaca.

    Quem fica aceso
    Enquanto toma ferro o tempo inteiro
    É dragão de açougueiro
    Só uma planta dá sardinha em lata
    Em plena beira de mar: é Coqueiro!
    Vem um pierrô de porre brabo
    E bota chifre, até que enfim, no arlequim
    Movida a álcool, bateria que merece
    Respeito e fé: mestre André!
    Melhor um general da banda
    Que outra banda de maiorais! Quás! Quás! Quás!

  • Rancho da Goiabada

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Os bóias-frias
    quando tomam umas birita
    espantando a tristeza,
    sonham com bife-a-cavalo,
    batata-frita e a sobremesa
    é goiabada-cascão com muito queijo,
    depois café, cigarro e um beijo
    de uma mulata chamada Leonor
    ou Dagmar.
    Amar
    o rádio-de-pilha,
    o fogão-jacaré, a marmita,
    o domingo, o bar,
    onde tantos iguais se reúnem
    contando mentiras
    pra poder suportar...
    ai, são pais-de-santo,
    paus-de-arara, são passistas,
    são flagelados,
    são pingentes, balconistas,
    palhaços, marcianos,
    canibais, lírios, pirados,
    dançando-dormindo
    de olhos-abertos à sombra
    da alegoria
    dos faraós embalsamados.

  • O Bêbado e a Equilibrista

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Caía
    a tarde feito um viaduto
    e um bêbado trajando luto
    me lembrou Carlitos.
    A lua,
    tal qual a dona do bordel,
    pedia a cada estrela fria
    um brilho de aluguel.
    E nuvens,
    lá no mata-borrão do céu,
    chupavam manchas torturadas
    - que sufoco!
    Louco,
    o bêbado com chapéu-côco
    fazia irreverências mil
    pra noite do Brasil, meu Brasil
    que sonhava com a volta do irmão do Henfil,
    com tanga gente que partiu
    num rabo-de-foguete.
    Chora a nossa pátria, mãe gentil,
    Choram Marias e Clarisses
    no solo do Brasil.
    Mas sei que uma dor assim pungente
    não há de ser inutilmente,
    a esperança, dança
    na corda-bamba de sombrinha
    em cada passo dessa linha
    pode se machucar.
    Azar! A esperança equilibrista
    sabe que o show de todo artista
    tem que continuar.

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