Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Há muito tempo
Nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como o navegante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas
Foi saudado no porto
Pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas
Jorravam das costas dos santos
Entre cantos e chibatas
Inundando o coração
Do pessoal do porão
Que a exemplo do feiticeiro
Gritava então:
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais
Salve o navegante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
Mas salve
Salve o navegante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
Mas faz muito tempo...
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Ta lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto uma foto de um gol
Em vez de reza uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém
O bar mais perto depressa lotou
Malandro junto com trabalhador
Um homem subiu na mesa do bar
E fez discurso pra vereador
Veio camelô vender anel, cordão, perfume barato
E baiana pra fazer pastel e um bom churrasco de gato
Quatro horas da manhã baixou o santo na porta-bandeira
E a moçada resolveu parar e então...
Ta lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto uma foto de um gol
Em vez de reza uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém
Sem pressa foi cada um pro seu lado
Pensando numa mulher ou num time
Olhei o corpo no chão e fechei
Minha janela de frente pro crime
Veio camelô vender anel, cordão, perfume barato
E baiana pra fazer pastel e um bom churrasco de gato
Quatro horas da manhã baixou o santo na porta-bandeira
E a moçada resolveu parar e então...
Ta lá o corpo estendido no chão
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Sentindo frio em minh´alma
Te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava:
São dois pra lá, dois pra cá
Meu coração traiçoeiro
Batia mais que o bongô
Tremia mais que as maracás
Descompassado de amor
Minha cabeça rodando
Rodava mais que os casais
O teu perfume gardênia
E não me perguntes mais
A tua mão no pescoço
As tuas costas macias
Por quanto tempo rondaram
As minhas noites vazias
No dedo um falso brilhante
Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante
Band-aid no calcanhar
Eu hoje me embriagando
De uísque com guaraná
Ouvi tua voz murmurando:
São dois pra lá, dois pra cá
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
É como um conto-de-fadas:
Tem sempre uma bruxa pra apavorar
O dragão comendo gente
E a bela adormecida sem acordar
Tudo que o mestre mandar
E a cobra-cega sem enxergar
E você se escondeu e você esqueceu...
Pique pau cuspe em distância
Pés pisando em ovos veja você
Um tal de pular fogueira
Pistolas morteiros veja você
Pega malhação em Judas
E quebra cabeças veja você
E você se escondeu e você não quis ver...
Olha o bobo na berlinda
Olha o pau no gato, polícia e ladrão
Tem carniça e palmatória
Bem no seu portão.
Você vive o faz de conta
Diz que é mentira, brinca até cair
Chicotinho tá queimando
Mamãe posso ir?
Pique pau cuspe em distância
Pés pisando em ovos bruxa dragão
Um tal de pular fogueira
E a cabra cega vai de boldão
Pega malhação de Judas
E um passarinho morto no chão
E você conheceu e você aprendeu...
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Jandira da gandaia
Jandira da algazarra
Jandira, já é dia...
Quem diria...
Jandira de Oxossi
Cuidado com essa tosse
Quando a noite esfria
Por que um dia
E um dia (quem diria)
Jandira variou como a maré varia
Suou e delirou como no amor fariz
Se pudesse amar
Jandira caixão de pinho
Luto, choro, velharia...
Assim não quero lembrar
Jandira da gandaia, tu era da minha laia
Hoje eu vou beber, sambar
Vou fazer feito você
Que nunca se preocupou
Com imagem por exterior
Vou render minha homenagem, fazendo furdunço
Tocando horror
E quando a noite acabar
Eu vou gritar entre as grades
De qualquer delegacia:
Jandira, já é dia, quem diria...
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Nas escadas da Penha
Penou no cotoco de vela
Velou a doideira da chama
Chamou o seu anjo-de-guarda
Guardou o remorso num canto
Cantou a mentira da nega
Negou o ciúme que mata
Matou o amigo de ala.
Tá lá
Tá lá o valete
No meio das cartas
No jogo dos búzios,
Tá lá no risco da pemba,
No giro da pomba,
No som do atabaque,
Tá lá.
E tá no cigarro, no copo de cana
Na roda de samba, tá lá
Nos olhos da nega na faca do crime
No caco do espelho no gol do seu time...
Tá lá o amigo de ala
O amigo de ala
Matou o ciúme que mata
Negou a mentira da nêga
Cantou o remorso num canto
Guardou o seu anjo-de-guarda
Chamou a doideira da chama
Velou no cotoco da vela
Penou nas Escadas da Penha
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Meu samba é casa de marimbondo:
Tem sempre enxame pra quem mexer
Não sabe com quem está falando
Nem quer saber, nem quer saber, nem quer saber
Tem gente aí que acha
Que samba é contravenção
Eu saco bem o tipo
E sou de opinião
Que é nego acredita
Que sempre tá com a razão
Meu samba sempre diz:
Essa Não! Essa Não! Essa Não!
Se o morro fica fazendo média
E aceitando a situação
Meu samba chega e, de cara feia
Dá decisão, dá decisão, dá decisão.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Hoje vai, vai ter marmelada,
Ouro e rua dos fliembusteiros,
Canastrões de capa e espada,
Rá-tá-plã dos boys escoteiros.
Bororós e homens marcados,
Pangarés, quermesses e missas,
Fuzuê nos supermercados,
Busca-pés, bolachas, carniças.
Mais guaranás
E parabéns nessa data querida,
Meus guaranis
Que o couro coma nos seus carnavais,
Que os menestréis
Cantem na voz dos pierrôs da caverna,
Que o trovador
Tenha peixeira e um bom jogo de perna,
Guaranis, Parabéns pra vocês.
Na TV, comícios e mísseis,
Jacarés, figuras difíceis,
Hospitais, turismo e transplantes,
Pantanais e desodorantes.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Você fica deitada
De olhos arregalados
Ou andando no escuro de penhoar
Não adiantou nada
Cortar os cabelos e jogar no mar
Não adiantou nada o banho de ervas
Não adiantou nada o nome de outra
No pano vermelho
Pro anjo das trevas
Ele vai voltar
Cheirando a cerveja,
Se atirar de sapato na cama vazia
E dormir na hora murmurando: Dora...
Mas você é Maria
Você fica deitada
Com medo de escuro
Ouvindo bater no ouvido
O coração descompassado
¾ é o tempo, Maria, Te comendo
Feito traça num vestido de noivado.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
O olhar dos cães, a mão nas rédeas
E o verde da floresta
Dentes brancos, cães
A trompa ao longe, o riso
Os cães, a mão na testa:
O olhar procura, antecipa
A dor no coração vermelho
Senhoritas, seus anéis, corcéis
E a dor no coração vermelho
O rebenque estala, um leque aponta: foi por lá!...
Um olhar de cão, as mãos são pernas
E o verde da floresta
- Oh, manhã entre manhãs! -
A trompa em cima, os cães
Nenhuma fresta
O olhar se fecha, uma lembrança
Afaga o coração vermelho:
Uma cabeleira sobre o feno
Afoga o coração vermelho
Montarias freiam, dentes brancos: terminou...
Línguas rubras dos amantes
Sonhos sempre incandescentes
Recomeçam desde instantes
Que os julgamos mais ausentes
Ah, recomeçar, recomeçar
Como canções e epidemias
Ah, recomeçar como as colheitas
Como a lua e a covardia
Ah, recomeçar como a paixão e o fogo
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Oi que foi só pegar no cavaquinho
Pra nego bater
Mas seu contar o que é que pode um cavaquinho
Os home não vão crer:
Quando ele fere, fere firme
E dói que nem punhal
Quando ele invoca até parece
Um pega na geral
Genésio!
A mulher do vizinho
Sustenta aquele vagabundo
Veneno é com meu cavaquinho
Pois se eu to com ele
Encaro todo mundo
Se alguém pisa no meu calo
Puxo o cavaquinho
Pra cantar de galo
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Vivia entre bordados pensativa,Violeta
A branca adolescente de raro encanto
E mãos frias
Mão fria, coração quente
Quem te botou quebranto
Vivia triste no canto
Passando as contas do terço
São José tirando a barba
Me lembra alguém que eu conheço
Um dia um menino cego
Tocou Violeta e viu
E depois o surdo ouviu
Chagas sumiram
Curou-se o coxo
Por obra e graça de santa Violeta de Belfort Roxo
E milagre dos milagres
Sem jamais haver provado
O leito nupcial
Violeta deu á luz
Um bebê de vitral
Em meio ao é hoje só
Da terça de carnaval
O alentado rebento
Vai se chamar Juvenal
Por sinal o mesmo nome
De um sargento do local