Autores: João Bosco, Paulo Emílio & Aldir Blanc
Dorival Caymmi falou para Oxum:
com Silas tô em boa companhia.
O Céu abraça a Terra,
deságua o Rio na Bahia.
Jeje
minha sede é dos rios
a minha cor é o arco-íris
minha fome é tanta
planta florimã da bandeira
a minha sina é verdeamarela
feito a bananeira.
Ouro cobre o espelho esmeralda
no berço esplêndido,
a floresta em calda,
manjedoura d´alma
labarágua, sete queda em chama,
cobra de ferro, Oxum-Maré:
homem e mulher na cama.
Jeje
tuas asas de pomba
presas nas costas
com mel e dendê
aguentam por um fio.
Sofrem
o bafio da fera,
o bombardeiro de caramuru,
a sanha de Anhanguera.
Jeje
tua boca do lixo
escarra o sangue
de outra hemoptise
no canal do Mangue.
O uirapuru das cinzas chama:
rebenta a louca, Oxum-Maré:
dança em teu mar de lama.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Vanderley e Odilon
são muito unidos
e vão pro Maracanã
todo domingo
criticando o casamento
e o papo mostra
que o casamento anda uma bosta...
Yolanda e Adelina
são muito unidas
e fazem companhia
todo domingo
que os maridos vão pro jogo.
Yolanda aposta
que assim a nível de Proposta
o casamento anda uma bosta
e a Adelina não discorda.
Estruturou-se um troca-troca
e os quatro: hum-hum... oqué... tá bom... é...
Só que Odilon, não pegando bem a coisa,
agarrou o Vanderley e a Yolanda ó na Adelina.
Vanderley e Odilon
bem mais unidos
empataram capital
e estão montando
restaurante natural
cuja proposta
é cada um come o eu gosta.
Yolanda e Adelina
bem mais unidas
acham viver um barato
e pra provar
tão fazendo artesanato
e pela amostra
Yolanda aposta na resposta.
E Adelina não discorda
que pinta e borda com o que gosta.
É positiva essa proposta
de quatro: hum-hum... oquéi... tá bom... é...
Só que Odilon
ensopapa o Vanderley com ciúme
e Adelina dá na cara de Yoyô...
Vanderley e Odilon
Yolanda e Adelina
cada um faz o que gosta
e o relacionamento... continua a mesma bosta!
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Confesso, querido diário,
essa mulher me convulsiona
o ar de mártir no calvário
dentro da bacanal romana.
Garanto, querido diário,
que atrás da leve hipocondria
convive a hóstia de um sacrário
com o fogo da ninfomania.
(hum...)
Hoje, acordei
tomei café
me masturbei
comprei o jornal
fiz a fé no bicho
pichei o governo
me senti quadrado
fui ao analista
cantei babalu
mais fora de esquadro
do que esquerdista
no Grajaú.
E o tempo todo, meu diário,
pensava nela com amargura.
O arquipélago das sardas
nas costas nuas, que loucura!
Constato, querido diário:
muito pior do que esquecê-la
é encontrá-la pelas ruas
dizer: - olá, prazer em vê-la...
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Abigail caiu do céu na pia de batizado
da igreja de santo Antônio dos pobres
pobre convidado do André que mesmo míope
viu logo na Abigail,
a encarnação de caliu, André ficou a mil
o amor cortou de viés e no préstito dos anos
Abigail dez e dez pôs os pés nos pêlianos
André de sapato novo foi pro Banco do Brasil
enriqueceu no over night esqueceu de Abigail
dizem que o chôro tem que ter uma terceira
como terceira existia na fró outra da cantareira
ora pois então resuma o final dos dois amantes
André foi pra dr Eiras
Abigail pro Inamps
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Morre a luz da noite
o porre acende pra me iluminar
numa outra cena...
Zune o vento e valsam os oitis
no velho boulervard:
bosques de Viena!
Escrevo a carta a uma desconhecida
com quem tive um flerte, um anjo azul...
pobres balconistas de paquete, de ar infeliz
são novas Bovarys...
Já perdi o expresso do oriente
onde sempre sou
vítima e assassino...
Tomo a carruagem e o cocheiro
de tabela dois
diz que é vascaíno...
Ah, triste figura, Don Quixote
quer mais um traçado
- cadê o Sancho?
Dá pro santo, bebe, e o passado
volta a desfilar,
pierô de marcha-rancho:
... com as bronca do Ary Barroso, sem elas...
... com a bossa do Ciro Monteiro, sem ela...
... com o copo cheio de Vinícius, sem ele...
... com nervos de aço Lupiscínio, sem eles...
... com as mãos do Antonio Maria, sem elas...
... com a voz do Lamartine Babo, sem ela...
... com a rosa Dolores Duran, sem ela...
... com a majestade da Elis, sem ela...
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Sou bem mulher
de pegar macho pelo pé
reencarnação
da princesa do Daomé.
Eu sou marfim
lá das minas do Salomão,
me esparramo em mim
lua cheia sobre o carvão.
Um mulherão,
balangandãs, cerâmica e sisal,
língua assim
a conta certa entre a baunilha e o sal,
fogão de lenha,
garrafa de areia colorida,
pedra-sabão,
peneira e água boa de moringa.
Sou de arrancar couro,
de farejar ouro,
Princesa o Daomé.
Sou coisa feita,
se o malandro se aconchegar
vai morrer na esteira
maré sonsa de Paquetá.
Sou coisa benta,
se provar do meu aluá
bebe o Pólo Norte
bem tirado do Samovar.
Neguinho assim, ó!
Já escreveu atrás do caminhão:
"mulher que a gente não se esquece
é lá do Daomé".
Faço mandinga,
fecho os caminhos com as cinzas,
deixo biruta, lelé da cuca,
zuretão, ranzinza...
Pra não ficar bobo
Melhor fugir logo,
sou de pegar pelo pé.
Sou avatar, Vodu,
sou de botar fogo,
Princesa do Daomé.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
(ele)
Amiga inseparável,
rancores siameses
nos unem pelo olhar.
Infelizes pra sempre
Em comunhão de males
obrigação de amar.
E amas em mim a cruel indiferença.
Aspiro em ti a maldade e a doença.
Vives grudada em mim,
gerando a pedra
em teu ventre de ostra
e eu conservo o fulgor do nosso ódio
estreitando a velha concha...
Amiga inseparável,
tu és meu acaso
e por acaso eu sou tua sina,
somos sorte e azar,
tu és minha relíquia,
seu sou tua ruína.
(ela)
Vivo grudada em ti,
gerando a pedra
em meu ventre de ostra.
Conservas o fulgor do nosso ódio
estreitando a velha concha...
Amigo inseparável,
eu sou teu acaso
e por acaso tu és minha sina,
somos sorte e azar,
eu sou tua relíquia,
tu és minha ruína.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Eu fui na venda
comprar pinga e pimentão
pra fazer um xarope noventa
que matasse a fome
e limpasse o pulmão
mas o caxeiro-cachorro!
Tomou meu dinheiro,
mandou que eu ficasse calado,
maneiro,
botou toda culpa na Dona Inflação.
- Essa não, seu Leitão!
Dei-lhe uma descompostura
criei embaraço,
os home arriaro a porta de aço
e arrepiaro mais que porquispim...
Tinha uma abertura nos fundo da venda,
corri como um cão,
passaro um jornal nos meus treco
e o Leitão
jogou o pacote por cima de mim.
- quase foi o meu fim!
Autores: João Bosco, Paulo Emílio & Aldir Blanc
Galo, grilo e pavão,
Todos três na batáia,
Cada um com seu estilo.
Galo vê bicho verde
nas asas da gráia,
o pavão diz: deu grilo!
Grilo ri do pavão
se empomba no arraia,
galo faz continença.
Galo grila o pavão
e quer crendenciá
dessa tar previdença.
Galo, grilo e pavão:
éta trio de arromba
modi num dá vacilo.
Se o pavão bodeá
galo joga uma bomba;
pega em riba de grilo.
Grilo qué o qui pintá,
galo, crocodilar.
Pavão abre falença.
Grilo é procuradó,
Pavão manda mata,
Galo cumpre a incumbença.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Os heróis eram quatro
Os três dias são quatro
É a hora do pato
É a onda e o mato
É o ato e o fato
O Tancredo e o Pinto
O Morcego e o Clóvis
O Arcanjo e o Diabo
Fralda cor de abacate
Beijo no guardanapo
É Zumbi no repique
Grega dando chilique
Índio de esparadrapo
Marajós de Irajá
Ícaros de Icaraí
E sandália havaiana
Chope, coxa e bagana
Um palhaço na maca
Legionários, miragens
Sheik de pilantragem
Frescuragem de paca
O rei-Sol chama Zeca
Tirolês de cueca
E um rebanho de vaca.
Quem fica aceso
Enquanto toma ferro o tempo inteiro
É dragão de açougueiro
Só uma planta dá sardinha em lata
Em plena beira de mar: é Coqueiro!
Vem um pierrô de porre brabo
E bota chifre, até que enfim, no arlequim
Movida a álcool, bateria que merece
Respeito e fé: mestre André!
Melhor um general da banda
Que outra banda de maiorais! Quás! Quás! Quás!