30 de abril de 2016 Artist Image

Galos de Briga – 1976

  • Incompatibilidade de Gênios

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Dotô,
    jogava o Flamengo, eu queria escutar.
    Chegou,
    mudou de estação, começou a cantar.
    Tem mais,
    um cisco no olho, ela em vez de assoprar,
    sem dó,
    falou que por ela eu podia cegar.
    Se eu dou
    um pulo, um pulinho, um instantinho no bar,
    bastou,
    durante dez noites me faz jejuar.
    Levou
    as minhas cuecas prum bruxo rezar.
    Coou
    meu café na café na calça pra mês segurar.
    Se eu to
    Devendo dinheiro e vêm me cobrar,
    dotô,
    a peste abre a porta e ainda manda sentar.
    Depois,
    se eu mudo de emprego que é pra melhorar,
    vê só,
    convida a mãe dela pra ir morar lá.
    Doto,
    se eu peço feijão, ela deixa salgar.
    Calor,
    mas veste casaco pra me atazanar.
    E ontem,
    Sonhando comigo, mandou eu jogar
    no burro
    e deu na cabeça a centena e o milhar.

  • Gol Anulado

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Quando você gritou mengo
    no segundo gol do Zico
    tirei sem pensar o cinto
    e bati até cansar.
    Três anos vivendo juntos
    e eu sempre disse contente:
    minha preta é uma rainha
    porque não teme o batente,
    se garante na cozinha
    e ainda é Vasco doente.
    Daquele gol até hoje
    o meu rádio está desligado
    como se irradiasse
    o silêncio do amor terminado.
    Eu aprendi que a alegria
    de quem está apaixonado
    é como a falsa euforia
    de um gol anulado.

  • O Cavaleiro e os Moinhos

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Acreditar
    Há existência dourada do sol
    mesmo que em plena boca
    nos bata o açoite contínuo da noite.
    Arrebentar
    a corrente que envolve o amanhã,
    despertar as espadas,
    varrer as esfinges das encruzilhadas.
    Todo esse tempo
    foi igual a dormir num navio:
    sem fazer movimento,
    mas tecendo o fio da água e do vento.
    Eu, baderneiro,
    me tornei cavaleiro,
    malandramente,
    pelos caminhos.
    Meu companheiro
    tá armado até os dentes:
    já não há mais moinhos
    como os de antigamente.

  • Rumbando

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Gemedeira, tremedeira, gemedeira, tremedeira,
    Gemedeira, tremedeira, gemedeira, tremedeira...
    ai, imita, levita, segura a cintura,
    ai, rumba, rumbeira,
    sacode os balangandãs
    e ajeita as bananas, balança os babados
    badala e obrigada
    - obrigada, minhas fãs!
    Ai, o rumo da rumba, um bumbo, uma tumba,
    um rombo e um tombo
    - mas nasceu pra bailar!
    Pode ser congada
    mas nasceu pra bailar.
    Ai, boneca de mola, com estola de pele,
    cheirinho de talco
    ¾ não treme no palco!
    As pedras da cordilheira
    caíram na cristaleira.
    As pedras da cordilheira
    caíram na cristaleira.

  • Vida Noturna

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Acendo um cigarro,
    molhado de chuva até os ossos
    e alguém me pede fogo:
    é um dos nossos.
    Eu sigo na chuva,
    de mão no bolso
    e sorrio.
    Eu estou de bem comigo
    e isso é difícil.
    Eu tenho num bolso
    uma carta,
    uma estúpida esponja
    de pó-de-arroz
    e um retrato, meu e dela,
    que vale muito mais
    do que nós dois.
    Eu disse ao garçon
    que quero que ela morra,
    olho as luas gêmeas dos faróis
    e assovio.
    somos todos sós
    mas hoje e estou de bem comigo
    e isso é difícil.
    Ah, vida noturna,
    eu sou a borboleta mais vadia
    na doce flor
    da tua hipocrisia.

  • Ronco da Cuica

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Roncou, roncou,
    roncou de raiva a cuíca,
    roncou de fome ...
    alguém mandou,
    mandou parar.
    - A cuíca é coisa dos home.
    A raiva dá pra parar, pra interromper.
    A fome não dá pra interromper.
    A fome e a raiva é coisa dos home.
    A fome tem que ter raiva pra interromper.
    A raiva é a fome de interromper.
    A fome e a raiva é coisa dos home,
    é coisa dos home,
    é coisa dos home,
    a raiva e a fome
    mexendo a cuíca
    vai ter que roncar.

  • Miss Sueter

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Fascínio tenho eu
    por falsas louras
    (ai, a negra lingerie),
    com sardas,
    sobrancelha feita à lápis
    e perfume da Coty.
    Na boca,
    dois pivots tão graciosos
    entre jóias naturais
    e olhos tais minúsculos aquários
    de peixinhos tropicais.
    Eu conheço uma assim,
    uma dessas mulheres
    que um homem não esquece.
    Ex-atrix de tv,
    hoje é escriturária do INPS,
    e que, dias atrás,
    venceu o Concurso de Miss Sueter.
    Na noite da vitória,
    emocionada, entre lágrimas falou:
    - "nem sempre a minha vida foi tão bela,
    mas o que passou, passou...
    dedico esse título a mamãe
    que tantos sacrifícios fez,
    pra que eu chegasse aqui, no apogeu,
    com o auxílio de vocês".
    Guardarei para sempre
    seu retrato de miss, com cetro e coroa,
    com a dedicatória que ela,
    em letra miúda, insistiu em fazer:
    "pra que os olhos relembrem,
    quando o teu coração infiel esquecer".
    Um beijo. Margô.

  • Latin Lover

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Nos dissemos
    que o começo é sempre,
    sempre inesquecível,
    e, no entanto, meu amor, que coisa incrível,
    esqueci nosso começo inesquecível.
    Mas me lembro
    de uma noite ¾ sua mãe tinha saído,
    me falaste de um sinal adquirido
    numa queda de patins em Paquetá:
    ¾ mostra... doeu?... ainda dói?...
    A voz mais rouca,
    e os beijos,
    cometas percorrendo o céu da boca...
    As lembranças
    acompanham até o fim um latin lover,
    que hoje morre,
    sem revólver, sem ciúmes, sem remédio,
    de tédio.

  • Galos de Briga

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Cristas de incêndio crispadas,
    cristas de fogo de espadas,
    cristas de luz suicida,
    lúcidas de sangue futuro.
    Cristas crismadas em rubro;
    não rubro rosa assustada,
    de rosa estufa, canteiro,
    mas rubro vinho maduro,
    rubro capa, bandarilha,
    rosa atirada ao toureiro.
    Não o rubrancor da vergonha,
    mas os rubros de ataduras,
    o rubro das brigas duras
    dos galos de fogo puro,
    rubro gengivas de ódio
    antes das manchas do muro.

  • Feminismo no Estacio

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Saiu só com a roupa-do-corpo
    num toró danado,
    foi pros cafundó-do-judas,
    apanhou um resfriado,
    voltou com a blusa rasgada,
    entrou, não disse nada,
    tô com dor-de-cotovelo
    e com a cabeça inchada...
    é de amargar, é de amargar,
    mas ela é maior e vacinada.
    Meu chapa,
    eu caí das nuvens com cara-de-tacho,
    essa nega ta pisando em mim,
    essa não, não sou capacho.
    Agora ando com a pulga-atrás-da-orelha,
    a telha dessa nega tá avariada
    - nega sem modos,
    só não chio, nem te dou pancada
    porque você é maior e vacinada.
    Sempre que a nega me torra,
    penso em ir à forra.
    Se o distinto tem problema igual,
    não é conselho mas olha,
    fique sabendo,
    quem se mete a manda-chuva,
    quase, quase sempre é um chove-não-molha.
    Bem que eu queria dar com fé uma cacarecada
    mas minha nega é maior e vacinada.

  • Transversal do Tempo

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    As coisas que eu sei de mim
    são pivetes da cidade:
    pedem, insistem e eu
    me sinto pouco a vontade.
    Fechado dentro de um táxi,
    numa transversal do tempo,
    acho que o amor é a ausência
    de engarrafamento.
    As coisas que eu sei de mim
    tentam vencer a distância
    e é como se aguardassem,
    feridas, numa ambulância.
    As pobres coisas que eu sei
    podem morrer, mas espero
    como se houvesse um sinal
    sem sair do amarelo.

  • O Rancho da Goiabada

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Os bóias-frias
    quando tomam umas birita
    espantando a tristeza,
    sonham com bife-a-cavalo,
    batata-frita e a sobremesa
    é goiabada-cascão com muito queijo,
    depois café, cigarro e um beijo
    de uma mulata chamada Leonor
    ou Dagmar.
    Amar
    o rádio-de-pilha,
    o fogão-jacaré, a marmita,
    o domingo, o bar,
    onde tantos iguais se reúnem
    contando mentiras
    pra poder suportar...
    ai, são pais-de-santo,
    paus-de-arara, são passistas,
    são flagelados,
    são pingentes, balconistas,
    palhaços, marcianos,
    canibais, lírios, pirados,
    dançando-dormindo
    de olhos-abertos à sombra
    da alegoria
    dos faraós embalsamados.

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