Autores: João Bosco, Paulo Emílio & Aldir Blanc
Toca de tatu, lingüiça e paio, boi zebú,
rabada com angú, rabo de saia.
Naco de perú, lombo de porco com tutu
e bolo de fubá, barriga d´água.
Há um diz que tem e no balaio tem também
um som bordão bordando o som, dedão, violação.
Diz um diz que viu e no balaio viu também
um pega lá no toma lá dá cá do samba.
Caldo de feijão, um vatapá, um coração.
Boca de siri, um namorado, um mexilhão.
Água de benzê, linha de passe, um chimarrão,
Babaluaê, rabo de arraia e confusão...
Valeu, valeu, Dirceu do seu gato deu...
Cana e cafuné, fandango e cassulê,
sereno e pé no chão, bala, candomblé,
e meu café, cadê? Não tem, vai pão com pão.
Já era a Tirolesa, o Garrincha, a Galeria,
a Mayrink Veiga, o Vai-da-Valsa, e hoje em dia
rola a bola, é sola, esfola, cola, é pau a pau,
e lá vem Portellas que nem Marquês de Pombal.
Mal, isso assim vai mal, mas viva o carnaval,
Lights e sarongs, bondes, louras, King-Kongs,
meu pirão primeiro é muita marmelada,
puxa-saco, cata-resto, pato, jogo-de-cabresto
e a pedalada quebra outro nariz,
na cara do juiz.
Aí, há quem faça uma cachorrada
E fique na banheira, ou jogue pra torcida,
Feliz da vida.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Teu pescoço, ilha cercada de luz
no fulgor da gargantilha
que nem praias de brilhantes em teu colo
merecendo redondilhas...
Nesse baila em que você debutou
eu botei pra fora meu coração,
você riu, me olhou de esgelha,
empolgado te mordi a orelha.
E daí foi um conto de fadas:
nós casados de um dia pro outro,
você, lânguida, misteriosa
e eu vibrante como um potro.
A princesa hoje lava pra fora.
Eu esgrimo a brocha e o pincel
pra dar tudo aos sete herdeiros
no palácio lá do morro do Borel
- e quem quiser que conte outra.
Autores: João Bosco & Paulo Emílio
O vento deu no matagal e deu na cara dos cajás,
no coqueiral, nas borboletas, azulão, nos curiós,
jaca manteiga, jaca mãe, no bambuzal, nas teias
tristes do porão, caramanchão, capim navalha coração,
canavial, acorde de um acordeão lá do matão,
menina moça gavião, aluvião, anunciando anunciação
e o garnisé cortando os pulsos da manhã nesse quintal,
e o vento deu na manga...
E o vento deu no mangueiral, na roupa banca do varal,
no lodaçal, e deu na cara da ilusão, no temporal,
deu nas pegadas desse chão...
E o vento deu no natural, deu no início de Natal,
deu no olhar e deu na cara do luar, deu na paixão
de um galo doido no quintal...
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
O João mandou parati
pra você se segurar.
Só não come a farofa amarela, morena,
do teu alguidar.
Se você tem algo a dar
que não seja a farofa do teu alguidar. Bis
I
Vi a Etelvina na esquina
de papo com o Claudinor.
Dei-lhe um tapa que pegou de quina
na cara da mina e acabou com o flozô.
Deram a ela água-de-flô,
eu fui me encher de cachaça.
Cada um tem a própria receita, morena,
Pra combater a desgraça.
II
Claudionor tomou as dores.
Etelvina menstruou.
Com a polícia e a reportagem
d´O Dia e A Notícia o pau degenerou.
Teve assalto, estupro, bomba,
bala que não foi normal.
Mas só morreu no conflito, morena,
um pacifista local.
III
Fui comer com o Claudionor
bolinho de bacalhau.
Vi chegar a mil na contra-mão
rabecão do Instituto Médico Legal.
Tive pena da Etelvina.
Chamei ela pruma dose.
Hoje em dia o nosso romance, morena,
Ta mais azul que equimose.
Autores: João Bosco, Paulo Emílio & Aldir Blanc
Mara manhã
no meu tersol
a luz do sol
Mara o mar verão
daí
o sutiã
você raiban
tanga de elanca
âncora em Mara
ai, Iansã, tara
de óleo suntan
odara
ô, na bandeja
loura cerveja
mareja mais
que o Aquidabã
que a própria manhã
que a luz do sol
que a dor
no tersol
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Caía
a tarde feito um viaduto
e um bêbado trajando luto
me lembrou Carlitos.
A lua,
tal qual a dona do bordel,
pedia a cada estrela fria
um brilho de aluguel.
E nuvens,
lá no mata-borrão do céu,
chupavam manchas torturadas
- que sufoco!
Louco,
o bêbado com chapéu-côco
fazia irreverências mil
pra noite do Brasil, meu Brasil
que sonhava com a volta do irmão do Henfil,
com tanga gente que partiu
num rabo-de-foguete.
Chora a nossa pátria, mãe gentil,
Choram Marias e Clarisses
no solo do Brasil.
Mas sei que uma dor assim pungente
não há de ser inutilmente,
a esperança, dança
na corda-bamba de sombrinha
em cada passo dessa linha
pode se machucar.
Azar! A esperança equilibrista
sabe que o show de todo artista
tem que continuar.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Costurou na boca do sapo
um resto de angu
- a sobra do prato que o pato deixou.
Depois deu de rir feito Exu Caveira:
marido infiel vai levar rasteira. Bis
E amarrou s pernas do sapo
com a guia de vidro
que ele pensava que tinha perdido.
Depois deu de rir feito Exu Caveira:
marido infiel vai levar rasteira. Bis
Tu tá branco, Honorato, que nem cal,
murcho feito o sapo, Honorato,
no quintal.
Do deu riso, Honorato, nem sinal.
Se o sapo dança, Honorato,
tu babau.
Definhou e acordou com um sonho
contando a mandiga,
e falou pra doida: meu santo me vinga.
Mas ela se riu feito Exu Caveira:
marido infiel vai levar rasteira. Bis
E implorou: "Patroa, perdoa.
Eu quero viver.
Afasta meus olhos de Obaluaiê".
Mas ela se riu feito Exu Caveira:
marido infiel vai levar rasteira. Bis
Ta virando, Honorato, varapau,
seco o sapo, Honorato,
no quintal.
Figa, reza, Honorato, o escambau.
nada salva o sapo, Honorato,
desse mal.
Autores: João Bosco & Paulo Emílio
Suco de sururucu
diga lá jacu
cutia comadre
posta de pirarucu
diga lá caju
barata cascuda
gruta de veiúva negra
caranguejeira
saúva coruja
rastro de jararucu
jararacoral
piranha calunga
diaba de banda retrai
de carataí
traíra de dente de dá
e cada dentada que dá
cascudo cará
purús Juruá
mordida no maracujá
de cobra criada no mar
chocalha no cadê você
sussurra no bote que dá
curare de cobra suga e sai
picada de cobra amor não dói
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Já-já me dá a Aydée
sua promessa
e dá a mãe da Aydée
consentimento.
Eu, um brasileiro de talento...
Me dá a avó da Aydée
a sua benção.
Me dá a irmã da Aydée
um cafezinho.
Me dá o pai da Aydée
um Hollywood.
Eu, um brasileiro de virtude...
A amiga da Aydée
deu - atchim! - saúde.
Eu não sei explicar de onde vem
a simpatia
que todos sentem por mim.
Sou mais um latino-americano
e Roberto é um ídolo pra mim.
Um guarda já me deu
um safanão.
Eu mesmo já me dei
um beliscão
e acordei suado e concordando:
Aydée, Aydei, Aydemos
e estamos dando.
Autores: João Bosco & Paulo Emílio
As manhãs, hortelãs, avelãs,
as hortênsias, maçãs.
São essas garças comparsas,
sinais de fumaça desse olhar?
Arlequins, pierrôs, querubins,
artifícios, romãs.
São esses cisnes intrigas,
ciúmes, disfarces desse andar?
Seios, suspiros e pêras
a boca mordeu.
E pêssegos, pernas, anseios,
a mão percorreu.
Ventre de vozes velozes
o verso lambeu.
E costas, colinas e dunas
o olhar se perdeu.
Ouro e prata, maçãs,
sapotis e romãs
são colhidas nos pés.
As espadas, carlotas e rosas
são sugadas nas mãos.
Autores: João Bosco, Paulo Emílio & Aldir Blanc
Noites assim, de março ou abril,
noite febril, noite-inquisição, grilhão,
negra visão, negro capuz.
Noites assim e o sangue a escorrer
por esse chão, poço-escuridão, sair
dessa masmorra nessa sangria,
andar por aí os mortos daqui,
medrar os jardins, corar os jasmins,
depois estancar.