30 de junho de 2016 Artist Image

Linha de Passe – 1979

  • Linha de Passe

    Autores: João Bosco, Paulo Emílio & Aldir Blanc

    Toca de tatu, lingüiça e paio, boi zebú,
    rabada com angú, rabo de saia.
    Naco de perú, lombo de porco com tutu
    e bolo de fubá, barriga d´água.
    Há um diz que tem e no balaio tem também
    um som bordão bordando o som, dedão, violação.
    Diz um diz que viu e no balaio viu também
    um pega lá no toma lá dá cá do samba.
    Caldo de feijão, um vatapá, um coração.
    Boca de siri, um namorado, um mexilhão.
    Água de benzê, linha de passe, um chimarrão,
    Babaluaê, rabo de arraia e confusão...
    Valeu, valeu, Dirceu do seu gato deu...
    Cana e cafuné, fandango e cassulê,
    sereno e pé no chão, bala, candomblé,
    e meu café, cadê? Não tem, vai pão com pão.
    Já era a Tirolesa, o Garrincha, a Galeria,
    a Mayrink Veiga, o Vai-da-Valsa, e hoje em dia
    rola a bola, é sola, esfola, cola, é pau a pau,
    e lá vem Portellas que nem Marquês de Pombal.
    Mal, isso assim vai mal, mas viva o carnaval,
    Lights e sarongs, bondes, louras, King-Kongs,
    meu pirão primeiro é muita marmelada,
    puxa-saco, cata-resto, pato, jogo-de-cabresto
    e a pedalada quebra outro nariz,
    na cara do juiz.
    Aí, há quem faça uma cachorrada
    E fique na banheira, ou jogue pra torcida,
    Feliz da vida.

  • Conto de Fada

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Teu pescoço, ilha cercada de luz
    no fulgor da gargantilha
    que nem praias de brilhantes em teu colo
    merecendo redondilhas...
    Nesse baila em que você debutou
    eu botei pra fora meu coração,
    você riu, me olhou de esgelha,
    empolgado te mordi a orelha.
    E daí foi um conto de fadas:
    nós casados de um dia pro outro,
    você, lânguida, misteriosa
    e eu vibrante como um potro.
    A princesa hoje lava pra fora.
    Eu esgrimo a brocha e o pincel
    pra dar tudo aos sete herdeiros
    no palácio lá do morro do Borel
    - e quem quiser que conte outra.

  • Sudoeste

    Autores: João Bosco & Paulo Emílio

    O vento deu no matagal e deu na cara dos cajás,
    no coqueiral, nas borboletas, azulão, nos curiós,
    jaca manteiga, jaca mãe, no bambuzal, nas teias
    tristes do porão, caramanchão, capim navalha coração,
    canavial, acorde de um acordeão lá do matão,
    menina moça gavião, aluvião, anunciando anunciação
    e o garnisé cortando os pulsos da manhã nesse quintal,
    e o vento deu na manga...
    E o vento deu no mangueiral, na roupa banca do varal,
    no lodaçal, e deu na cara da ilusão, no temporal,
    deu nas pegadas desse chão...
    E o vento deu no natural, deu no início de Natal,
    deu no olhar e deu na cara do luar, deu na paixão
    de um galo doido no quintal...

  • Parati

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    O João mandou parati
    pra você se segurar.
    Só não come a farofa amarela, morena,
    do teu alguidar.
    Se você tem algo a dar
    que não seja a farofa do teu alguidar. Bis

    I
    Vi a Etelvina na esquina
    de papo com o Claudinor.
    Dei-lhe um tapa que pegou de quina
    na cara da mina e acabou com o flozô.
    Deram a ela água-de-flô,
    eu fui me encher de cachaça.
    Cada um tem a própria receita, morena,
    Pra combater a desgraça.

    II
    Claudionor tomou as dores.
    Etelvina menstruou.
    Com a polícia e a reportagem
    d´O Dia e A Notícia o pau degenerou.
    Teve assalto, estupro, bomba,
    bala que não foi normal.
    Mas só morreu no conflito, morena,
    um pacifista local.

    III
    Fui comer com o Claudionor
    bolinho de bacalhau.
    Vi chegar a mil na contra-mão
    rabecão do Instituto Médico Legal.
    Tive pena da Etelvina.
    Chamei ela pruma dose.
    Hoje em dia o nosso romance, morena,
    Ta mais azul que equimose.

  • Patrulhando (Mara)

    Autores: João Bosco, Paulo Emílio & Aldir Blanc

    Mara manhã
    no meu tersol
    a luz do sol
    Mara o mar verão
    daí
    o sutiã
    você raiban
    tanga de elanca
    âncora em Mara
    ai, Iansã, tara
    de óleo suntan
    odara
    ô, na bandeja
    loura cerveja
    mareja mais
    que o Aquidabã
    que a própria manhã
    que a luz do sol
    que a dor
    no tersol

  • O Bêbado e a Equilibrista

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Caía
    a tarde feito um viaduto
    e um bêbado trajando luto
    me lembrou Carlitos.
    A lua,
    tal qual a dona do bordel,
    pedia a cada estrela fria
    um brilho de aluguel.
    E nuvens,
    lá no mata-borrão do céu,
    chupavam manchas torturadas
    - que sufoco!
    Louco,
    o bêbado com chapéu-côco
    fazia irreverências mil
    pra noite do Brasil, meu Brasil
    que sonhava com a volta do irmão do Henfil,
    com tanga gente que partiu
    num rabo-de-foguete.
    Chora a nossa pátria, mãe gentil,
    Choram Marias e Clarisses
    no solo do Brasil.
    Mas sei que uma dor assim pungente
    não há de ser inutilmente,
    a esperança, dança
    na corda-bamba de sombrinha
    em cada passo dessa linha
    pode se machucar.
    Azar! A esperança equilibrista
    sabe que o show de todo artista
    tem que continuar.

  • Boca de Sapo

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Costurou na boca do sapo
    um resto de angu
    - a sobra do prato que o pato deixou.
    Depois deu de rir feito Exu Caveira:
    marido infiel vai levar rasteira. Bis
    E amarrou s pernas do sapo
    com a guia de vidro
    que ele pensava que tinha perdido.
    Depois deu de rir feito Exu Caveira:
    marido infiel vai levar rasteira. Bis
    Tu tá branco, Honorato, que nem cal,
    murcho feito o sapo, Honorato,
    no quintal.
    Do deu riso, Honorato, nem sinal.
    Se o sapo dança, Honorato,
    tu babau.
    Definhou e acordou com um sonho
    contando a mandiga,
    e falou pra doida: meu santo me vinga.
    Mas ela se riu feito Exu Caveira:
    marido infiel vai levar rasteira. Bis
    E implorou: "Patroa, perdoa.
    Eu quero viver.
    Afasta meus olhos de Obaluaiê".
    Mas ela se riu feito Exu Caveira:
    marido infiel vai levar rasteira. Bis
    Ta virando, Honorato, varapau,
    seco o sapo, Honorato,
    no quintal.
    Figa, reza, Honorato, o escambau.
    nada salva o sapo, Honorato,
    desse mal.

  • Cobra Criada

    Autores: João Bosco & Paulo Emílio

    Suco de sururucu
    diga lá jacu
    cutia comadre
    posta de pirarucu
    diga lá caju
    barata cascuda
    gruta de veiúva negra
    caranguejeira
    saúva coruja
    rastro de jararucu
    jararacoral
    piranha calunga
    diaba de banda retrai
    de carataí
    traíra de dente de dá
    e cada dentada que dá
    cascudo cará
    purús Juruá
    mordida no maracujá
    de cobra criada no mar
    chocalha no cadê você
    sussurra no bote que dá
    curare de cobra suga e sai
    picada de cobra amor não dói

  • Ai Aydeé

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Já-já me dá a Aydée
    sua promessa
    e dá a mãe da Aydée
    consentimento.
    Eu, um brasileiro de talento...
    Me dá a avó da Aydée
    a sua benção.
    Me dá a irmã da Aydée
    um cafezinho.
    Me dá o pai da Aydée
    um Hollywood.
    Eu, um brasileiro de virtude...
    A amiga da Aydée
    deu - atchim! - saúde.
    Eu não sei explicar de onde vem
    a simpatia
    que todos sentem por mim.
    Sou mais um latino-americano
    e Roberto é um ídolo pra mim.
    Um guarda já me deu
    um safanão.
    Eu mesmo já me dei
    um beliscão
    e acordei suado e concordando:
    Aydée, Aydei, Aydemos
    e estamos dando.

  • Natureza Viva

    Autores: João Bosco & Paulo Emílio

    As manhãs, hortelãs, avelãs,
    as hortênsias, maçãs.
    São essas garças comparsas,
    sinais de fumaça desse olhar?
    Arlequins, pierrôs, querubins,
    artifícios, romãs.
    São esses cisnes intrigas,
    ciúmes, disfarces desse andar?

    Seios, suspiros e pêras
    a boca mordeu.
    E pêssegos, pernas, anseios,
    a mão percorreu.
    Ventre de vozes velozes
    o verso lambeu.
    E costas, colinas e dunas
    o olhar se perdeu.
    Ouro e prata, maçãs,
    sapotis e romãs
    são colhidas nos pés.
    As espadas, carlotas e rosas
    são sugadas nas mãos.

  • Patrulhando (Masmorra)

    Autores: João Bosco, Paulo Emílio & Aldir Blanc

    Noites assim, de março ou abril,
    noite febril, noite-inquisição, grilhão,
    negra visão, negro capuz.
    Noites assim e o sangue a escorrer
    por esse chão, poço-escuridão, sair
    dessa masmorra nessa sangria,
    andar por aí os mortos daqui,
    medrar os jardins, corar os jasmins,
    depois estancar.

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