Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão
Dispara um trem bala veloz feito luzes
e integra a estação razão à intuição
Por meio do teu nome ausente em mim reluzes
enquanto um garotinho empurra seu limão
A blitz ali na frente diz que aqui a onda
tá mais pro Haiti do que pro Havaí
Se as coisas nos reduzem simplesmente a nada
de nada simplesmente temos que partir
Que fazer agora?
Dispara o trem bala veloz feito luzes
Uma criança chora?
De nada simplesmente temos que partir
Produzir vibrações rotações girassóis
danças saltos gravitações
Inventar novas metas e setas que vão
disparar novos corações
O céu está nublado?
As nuvens serão tela para o filme que se quer projetar
nas nuvens.
Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão
Dia e noite
(como posso)
explicar
meu bem?)
busco a saída
de emergência
sem achar
Sem ao menos
escutar você mentir
como é que eu posso conseguir
dormir?
Na vida que tracei
alguns meses atrás
já não cabia cataclismas mais
Sua boca
tem um jeito
de fundir
o mais profundo
ao superficial
Nos seus olhos
e maneira
de sorrir
eu vi
o impossível
o possível
o real
Sem ao menos escutar você mentir pra mim
me diz meu bem
como é que eu faço pra dormir?
Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão
Porque nasci
de manhã cedo
do fundo de um poço dos desejos
sei que só há
uma certeza:
o mundo é um tecido de surpresas.
À noite estou
apaixonado
principalmente quando embriagado
mas de manhã
pego a estrada
que leva a uma cidade intoxicada.
No fundo sou
um anarquista
e pago à prestação por uma vista.
Penso na paz
vivo a guerra
o céu fica distante desta terra.
Às vezes sou
ladrão de fogo
às vezes prisioneiro de algum jogo.
Seja o que for
não tenho medo
dos uivos dos fantasmas de mim mesmo.
Às vezes rei
às vezes bobo
às vezes sou peão em qualquer jogo.
Seja o que for
não tenho medo
dos uivos dos fantasmas de mim mesmo.
Autores: João Bosco & Waly Salomão
Eu já esqueci você tento crer
seu nome sua cara seu jeito seu odor
sua casa sua cama seu suor
Eu pertenço à raça da pedra dura
Quando enfim juro que esqueci
quem se lembra de você em mim em mim
não sou eu, sofro e sei
não sou eu, finjo que não sei, não sou eu
Sonho bocas que murmuram
tranço em pernas que procuram, enfim...
Não sou eu, sofro e sei
Quem se lembra de você em mim, eu sei...
Bate é na memória da minha pele
Bate é no sangue que bombeia na minha veia
Bate é no champagne que borbulhava na sua taça
e que borbulha agora na taça da minha cabeça
Eu já esqueci você, tento crer
nesses lábios que meus lábios sugam de prazer
sugo sempre, busco sempre a sonhar em vão
cor vermelha sua boca
coração.
Autores: João Bosco & Antônio Cícero
Há entre as pedras
e as almas
afinidades
tão raras
como vou dizer?
Elas têm cheiro
de gente
queira ou não queira
se sente:
têm esse poder
Pedra e homem
comovem
sobem e descem
e somem
e ninguém sabe bem
O homem desce do
dos céus
e a pedra nasce
de Deus
que tudo contém
Mas o templo eu faria assim
puro de uma pedra bruta
de uma fruta bem calada
diminuta furta-cor
de granito assim a cintilar
no seu olhar.
Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão
Certa hora você me encarou:
bateu bem fundo
e pensei ter descoberto por que
correra mundo,
procurando o tempo todo tão só
na multidão
até encontrar
alguém
que bastasse para me povoar
a solidão.
Logo esfrego os olhos:
tudo é ilusão.
Cedo cedo será tarde.
Não se engane, não me queixo disso não:
sua imagem arde
nas noites de solidão.
Por que é que não consigo viver
feito os demais
entre álbuns de família, bens, trens,
mobília e paz?
Por que é que eu preciso partir
assim sem mais?
Quem me dirá
por que,
por que é que não consigo viver
feito os demais?
Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão
Dias sem carinho
Só que não me desespero:
Rango alumínio
Ar, pedra, carvão e ferro.
Eu lhe ofereço
Essas coisas que enumero:
Quando fantasio
É quando sou mais sincero
Desde o fim da nossa história
Eu já segui navios
Aviões e holofotes
Pela noite afora.
Me fissurarm tantos signos
E selvas, portos, places,
Línguas, sexos, olhos
De amazonas que inventei.
Eis a Babilônia, amor,
E eis Babel aqui:
Algo da insônia
Do seu sonho antigo em mim.
Eis aqui
O meu presente
De navios
E aviões
Holofotes
Noites afora
E fissuras
E invenções:
Tudo isso
É pra queimar-se
Combustível
Pra se gastar
O carvão
O desespero
O alumínio
E o coração
Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão
É maio
feito bóia ébria boiarei
maio
filmes rápidos plágios sonharei
e dispenso até a esperança
contente com a epiderme de um lugar
que a brisa deste mês beija e balança
É maio
maio maio maio maio é
maio
sonho sonho sonho sonharei
nenhum monstro em maio me assusta
e até o tempo o devorador
já sabe que sou em quem o degusta
maio
e me
deito
no chão
céu água-marinha sobre mim
sem nem
lembrar
quem foi que no verão cruel
veio passo a passo
e seqüestrou meu coração
mas não levou o céu
que avisto aqui do chão
Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão
É noite alta e quente e não vou mais dormir
pois uma canção
insiste em surgir
misteriosamente.
Proveniente de um caos que não tem fim
e da inquietação
sei que ela faz de mim
seu olho de nascente.
Gota por gota cada nota vai brotar
algo gratuito assim que vem só porque quer
sem ninguém chamar
e não quer se esconder
e quando enfim se desdobrar
talvez seja por você.
Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão
Um dia a beleza senta no seu colo
Você a convence a ficar
Quem importa se ela o fizer de tolo
Que importa se ela o arranhar
Ela encenará teatro de crueldade
Violência com sua doce voz
Se ela fugir você vai ter saudade
Mas se ela ficar será atroz
Alguém lhe dirá que é paranóia
Sentir que o jogo já está perdido
Mas você responde: "paranóico
É quem descobriu ser perseguido".
Um dia a beleza toca o seu solo
Você lhe pergunta "o que é que há?
Vem cá se sentar no colo de outro tolo".
Você a convence a ficar.
Mas ela burlou a alfândega do samba
E o fez justamente pra sambar
Na roda ela é a dona da muamba
Que importa se ela o devassar?
Alguém lhe dirá que é paranóia
Sentir que o jogo já está perdido
Mas você responde: "paranóico
É quem descobriu ser perseguido".
Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão
Estrelas no escuro
e fenômenos do vir-a-ser
que os deuses me invejem
eu dou tudo por mero prazer
Pois o excesso de felicidade
bem do princípio do amor
quando o amor é fatal
quando é fatal
mata os deuses de inveja
de um simples mortal
Que são o futuro e o passado
a saudade e a esperança
o amor nos convida à viagem
agora e aqui
Quando você me inflama
o foco da imaginação
vejo como é relativo
o poder da razão enfim
Sábios costumam mentir
isso por força do amor por você aprendi
Não pe que eu ame apesar
do absurdo de amar
mas justamente
porque é absurdo sem par
Que são o futuro e o passado
a saudade e a esperança?
Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão
Rei
eu sei que sou
sempre fui
sempre serei
oba
de um continente por se descobrir
Já
alguns sinais
estão aí
sempre a brotar
do ar
de um território que está por explodir
Sim
mas é preciso ser sutil
pois justo na terra de ninguém
sucumbe um velho paraíso
Sim, bem em cima do barril
exato na zona de fronteira
eu improviso o Brasil.
Rei
eu sei que sou
sempre fui
sempre serei
oba
de um continente por se descobrir
Já
alguns sinais
estão aí
sempre a brotar
do ar
de um território que está por explodir
E
minha cabeça voa assim
acima de todas as montanhas e abismos
que há no país
Mas algo chama a atenção
ninguém jamais canta duas vezes uma mesma canção.