7 de agosto de 2017 Artist Image

Zona de Fronteira – 1991

  • Trem Bala

    Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão

    Dispara um trem bala veloz feito luzes
    e integra a estação razão à intuição
    Por meio do teu nome ausente em mim reluzes
    enquanto um garotinho empurra seu limão
    A blitz ali na frente diz que aqui a onda
    tá mais pro Haiti do que pro Havaí
    Se as coisas nos reduzem simplesmente a nada
    de nada simplesmente temos que partir
    Que fazer agora?
    Dispara o trem bala veloz feito luzes
    Uma criança chora?
    De nada simplesmente temos que partir
    Produzir vibrações rotações girassóis
    danças saltos gravitações
    Inventar novas metas e setas que vão
    disparar novos corações
    O céu está nublado?
    As nuvens serão tela para o filme que se quer projetar
    nas nuvens.

  • Saída de Emergência

    Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão

    Dia e noite
    (como posso)
    explicar
    meu bem?)
    busco a saída
    de emergência
    sem achar
    Sem ao menos
    escutar você mentir
    como é que eu posso conseguir
    dormir?
    Na vida que tracei
    alguns meses atrás
    já não cabia cataclismas mais
    Sua boca
    tem um jeito
    de fundir
    o mais profundo
    ao superficial
    Nos seus olhos
    e maneira
    de sorrir
    eu vi
    o impossível
    o possível
    o real
    Sem ao menos escutar você mentir pra mim
    me diz meu bem
    como é que eu faço pra dormir?

  • Ladrão de Fogo

    Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão

    Porque nasci
    de manhã cedo
    do fundo de um poço dos desejos
    sei que só há
    uma certeza:
    o mundo é um tecido de surpresas.
    À noite estou
    apaixonado
    principalmente quando embriagado
    mas de manhã
    pego a estrada
    que leva a uma cidade intoxicada.
    No fundo sou
    um anarquista
    e pago à prestação por uma vista.
    Penso na paz
    vivo a guerra
    o céu fica distante desta terra.
    Às vezes sou
    ladrão de fogo
    às vezes prisioneiro de algum jogo.
    Seja o que for
    não tenho medo
    dos uivos dos fantasmas de mim mesmo.
    Às vezes rei
    às vezes bobo
    às vezes sou peão em qualquer jogo.
    Seja o que for
    não tenho medo
    dos uivos dos fantasmas de mim mesmo.

  • Memória da Pele

    Autores: João Bosco & Waly Salomão

    Eu já esqueci você tento crer
    seu nome sua cara seu jeito seu odor
    sua casa sua cama seu suor
    Eu pertenço à raça da pedra dura
    Quando enfim juro que esqueci
    quem se lembra de você em mim em mim
    não sou eu, sofro e sei
    não sou eu, finjo que não sei, não sou eu
    Sonho bocas que murmuram
    tranço em pernas que procuram, enfim...
    Não sou eu, sofro e sei
    Quem se lembra de você em mim, eu sei...
    Bate é na memória da minha pele
    Bate é no sangue que bombeia na minha veia
    Bate é no champagne que borbulhava na sua taça
    e que borbulha agora na taça da minha cabeça
    Eu já esqueci você, tento crer
    nesses lábios que meus lábios sugam de prazer
    sugo sempre, busco sempre a sonhar em vão
    cor vermelha sua boca
    coração.

  • Granito

    Autores: João Bosco & Antônio Cícero

    Há entre as pedras
    e as almas
    afinidades
    tão raras
    como vou dizer?
    Elas têm cheiro
    de gente
    queira ou não queira
    se sente:
    têm esse poder
    Pedra e homem
    comovem
    sobem e descem
    e somem
    e ninguém sabe bem
    O homem desce do
    dos céus
    e a pedra nasce
    de Deus
    que tudo contém
    Mas o templo eu faria assim
    puro de uma pedra bruta
    de uma fruta bem calada
    diminuta furta-cor
    de granito assim a cintilar
    no seu olhar.

  • Assim Sem Mais

    Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão

    Certa hora você me encarou:
    bateu bem fundo
    e pensei ter descoberto por que
    correra mundo,
    procurando o tempo todo tão só
    na multidão
    até encontrar
    alguém
    que bastasse para me povoar
    a solidão.
    Logo esfrego os olhos:
    tudo é ilusão.
    Cedo cedo será tarde.
    Não se engane, não me queixo disso não:
    sua imagem arde
    nas noites de solidão.
    Por que é que não consigo viver
    feito os demais
    entre álbuns de família, bens, trens,
    mobília e paz?
    Por que é que eu preciso partir
    assim sem mais?
    Quem me dirá
    por que,
    por que é que não consigo viver
    feito os demais?

  • Holofotes

    Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão

    Dias sem carinho
    Só que não me desespero:
    Rango alumínio
    Ar, pedra, carvão e ferro.
    Eu lhe ofereço
    Essas coisas que enumero:
    Quando fantasio
    É quando sou mais sincero
    Desde o fim da nossa história
    Eu já segui navios
    Aviões e holofotes
    Pela noite afora.
    Me fissurarm tantos signos
    E selvas, portos, places,
    Línguas, sexos, olhos
    De amazonas que inventei.
    Eis a Babilônia, amor,
    E eis Babel aqui:
    Algo da insônia
    Do seu sonho antigo em mim.
    Eis aqui
    O meu presente
    De navios
    E aviões
    Holofotes
    Noites afora
    E fissuras
    E invenções:
    Tudo isso
    É pra queimar-se
    Combustível
    Pra se gastar
    O carvão
    O desespero
    O alumínio
    E o coração

  • Maio Maio Maio

    Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão

    É maio
    feito bóia ébria boiarei
    maio
    filmes rápidos plágios sonharei
    e dispenso até a esperança
    contente com a epiderme de um lugar
    que a brisa deste mês beija e balança
    É maio
    maio maio maio maio é
    maio
    sonho sonho sonho sonharei
    nenhum monstro em maio me assusta
    e até o tempo o devorador
    já sabe que sou em quem o degusta
    maio
    e me
    deito
    no chão
    céu água-marinha sobre mim
    sem nem
    lembrar
    quem foi que no verão cruel
    veio passo a passo
    e seqüestrou meu coração
    mas não levou o céu
    que avisto aqui do chão

  • Misteriosamente

    Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão

    É noite alta e quente e não vou mais dormir
    pois uma canção
    insiste em surgir
    misteriosamente.
    Proveniente de um caos que não tem fim
    e da inquietação
    sei que ela faz de mim
    seu olho de nascente.
    Gota por gota cada nota vai brotar
    algo gratuito assim que vem só porque quer
    sem ninguém chamar
    e não quer se esconder
    e quando enfim se desdobrar
    talvez seja por você.

  • Paranóia

    Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão

    Um dia a beleza senta no seu colo
    Você a convence a ficar
    Quem importa se ela o fizer de tolo
    Que importa se ela o arranhar
    Ela encenará teatro de crueldade
    Violência com sua doce voz
    Se ela fugir você vai ter saudade
    Mas se ela ficar será atroz
    Alguém lhe dirá que é paranóia
    Sentir que o jogo já está perdido
    Mas você responde: "paranóico
    É quem descobriu ser perseguido".
    Um dia a beleza toca o seu solo
    Você lhe pergunta "o que é que há?
    Vem cá se sentar no colo de outro tolo".
    Você a convence a ficar.
    Mas ela burlou a alfândega do samba
    E o fez justamente pra sambar
    Na roda ela é a dona da muamba
    Que importa se ela o devassar?
    Alguém lhe dirá que é paranóia
    Sentir que o jogo já está perdido
    Mas você responde: "paranóico
    É quem descobriu ser perseguido".

  • Sábios Costumam Mentir

    Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão

    Estrelas no escuro
    e fenômenos do vir-a-ser
    que os deuses me invejem
    eu dou tudo por mero prazer
    Pois o excesso de felicidade
    bem do princípio do amor
    quando o amor é fatal
    quando é fatal
    mata os deuses de inveja
    de um simples mortal
    Que são o futuro e o passado
    a saudade e a esperança
    o amor nos convida à viagem
    agora e aqui
    Quando você me inflama
    o foco da imaginação
    vejo como é relativo
    o poder da razão enfim
    Sábios costumam mentir
    isso por força do amor por você aprendi
    Não pe que eu ame apesar
    do absurdo de amar
    mas justamente
    porque é absurdo sem par
    Que são o futuro e o passado
    a saudade e a esperança?

  • Zona de Fronteira

    Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão

    Rei
    eu sei que sou
    sempre fui
    sempre serei
    oba
    de um continente por se descobrir

    alguns sinais
    estão aí
    sempre a brotar
    do ar
    de um território que está por explodir
    Sim
    mas é preciso ser sutil
    pois justo na terra de ninguém
    sucumbe um velho paraíso
    Sim, bem em cima do barril
    exato na zona de fronteira
    eu improviso o Brasil.
    Rei
    eu sei que sou
    sempre fui
    sempre serei
    oba
    de um continente por se descobrir

    alguns sinais
    estão aí
    sempre a brotar
    do ar
    de um território que está por explodir
    E
    minha cabeça voa assim
    acima de todas as montanhas e abismos
    que há no país
    Mas algo chama a atenção
    ninguém jamais canta duas vezes uma mesma canção.

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Trem Bala Agnus Sei Por Um Sorriso Dois pra lá Dois pra cá Incompatibilidade de Genios Genesis (Parto) Falso Brilhante Linha de Passe Tal mãe, Tal filha Angra Profissionalismo é isso ai Escadas da Penha Bate um Balaio ou Rockson do Pandeiro Cabaré Coisa Feita Malabaristas do Sinal Vermelho Siri Recheado e o Cacete Tristeza de uma embolada Amar, Amar Quilombo Si Si No No Ditodos O Mestre-sala dos Mares As Minas do Mar Granito Desnortes Holofotes Indeciso Coração Querido Diário Forró em Limoeiro Se Você Jurar Calango Rosa Papel Machê Pixinguinha 10x0 Beirando a Rumba Kid Cavaquinho Perversa Mama Palavra Cinema Cidade Incompatibilidade de Gênios Bala com Bala - Edu Lobo Pronto pra próxima
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