Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Dentre as mentiras da vida
duas nos revelam mais:
- É um prazer conhece-lo.
- Era muito bom rapaz.
Eu vou é sair de trás da mesa
espiar que é que tem ali de baixo.
Se eu for embora
vou deixar a luz acesa
e se voltar
não limpo os pés
no seu capacho.
Dizem que é fogo atingir
com o meu estilingue
as vidraças insensíveis
do Shopping Center Building.
Se você me perguntar
o que é que eu acho
mesmo que eu ache
eu já digo que não acho.
Enquanto brincam no gramado
as moças chiques
eu quero chuvas pra estragar o piquenique.
Eu não provei aquele tipo de xarope
que está por cima
nas pesquisas do IBOPE:
eu estou remando rio acima
por prazer,
não há nada a desculpar
foi por querer.
Me passe o sal
pra botar na sobremesa
o Grande Público
cansou minha beleza.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Dentre as mentiras da vida
duas nos revelam mais:
- É um prazer conhece-lo.
- Era muito bom rapaz.
Eu vou é sair de trás da mesa
espiar que é que tem ali de baixo.
Se eu for embora
vou deixar a luz acesa
e se voltar
não limpo os pés
no seu capacho.
Dizem que é fogo atingir
com o meu estilingue
as vidraças insensíveis
do Shopping Center Building.
Se você me perguntar
o que é que eu acho
mesmo que eu ache
eu já digo que não acho.
Enquanto brincam no gramado
as moças chiques
eu quero chuvas pra estragar o piquenique.
Eu não provei aquele tipo de xarope
que está por cima
nas pesquisas do IBOPE:
eu estou remando rio acima
por prazer,
não há nada a desculpar
foi por querer.
Me passe o sal
pra botar na sobremesa
o Grande Público
cansou minha beleza.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Boi-bumbá
o rei do congado quem vai eleger
eh! Boi
marcado, arriado por meu canjerê,
o boi foi todo enfeitado
e passado pra trás.
Boi-bumbá
Exu, boitatá, curupira
entregando o boi,
cobra jararaca na mata
espreitando o boi
que não sabe o que faz.
O planalto quieto
recorta uma loura assombração
lançando a tocha rubra
nos campos de algodão.
O incêndio estala e cresce
nas entranhas do sertão.
Dispersa o gado morro abaixo
¾ cada um por si.
depois, o ouro baço
o boi de bruços no arraial
de beiço murcho, a junta mole.
Corumbá!
E! E! boi
o canto do aboio é agouro ruim.
E! boi
o gado se esquece com pouco capim
um boi, barroso, retardo, não vai se fechar.
E! E! boi
rebenta o cercado
e guerreia por teu lugar
ou tomba no fundo das águas de Guajará.
Bumba-meu-boi-bumbá!
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Angra desolada, dia que não raia
Barcos submersos, rochas de atalaia.
Redes agonizam pelo chão da praia,
Lemes submissos, dia que não raia azul.
Nuvens de ameaça, lua prisioneira.
Águas assassinas, chuva carpideira.
Volta ao porto o corpo morto
De outro moço:
Cruz de carne e osso
Que tentou fugir no mar.
Asas invisíveis sobre o meu silêncio
Facas dirigidas contra o que eu não tento,
E hoje o mar de Angra
Sangra dos meus olhos
Precipício aberto
De onde me arrebento.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Cama arruma a cama arruma a cama
Cama arruma a cama arruma a cama
Cana apanha a cana apanha a cana
Cana apanha a cana apanha a cana
Trama arruma a trama arruma a trama
Trama arruma a trama arruma a trama
Tranca arromba a tranca arromba a tranca
Tranca arromba a tranca arromba a tranca
Zanga atiça a zanga atiça a zanga
Zanga atiça a zanga atiça a zanga
Fogo ateia o fogo ateia o fogo
Fogo ateia o fogo ateia o fogo
Ponta afia a ponta afia a ponta
Ponta afia a ponta afia a ponta
Canto apruma o canto apruma o canto
Canto apruma o canto apruma o canto.
os soldados vem buscá
os esclavo do sinhô
é preciso se cuidá
cum ataque do invasor
garra prá lutá
fossa pá cavá
lenha pá acendê
ramo pá cortá
fio pá tecê
arco pá fazê
pedra pá jogá
faca pá amolá
água pá fervê
vamos disfarçar vamos preparar vamos devolver
eh camacana eh camacana eh camacana eh
eh tramatranca eh tramatranca eh tramatranca eh
eh zangafogo eh zangafogo eh zangafogo eh
eh pontacanto eh pontacanto eh pontacanto eh
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
A sala cala e o jornal prepara quem está na sala
Com pipoca e com bala ¾ e o urubu sai voando
O tempo corre e o suor escorre, vem alguém de porre
Há um corre-corre, e o mocinho chegando, dando.
Eu esqueço sempre nesta hora (linda, loura)
Minha velha fuga em todo impasse;
Eu esqueço sempre nesta hora (linda loura)
Quanto me custa dar a outra face.
O tapa estala no balacobaco e é fala com fala
E é bala com bala e o galã se espalhando, dando.
No rala-rala quando acaba a bala é faca com faca
É rapa com rapa e eu me realizando, bambo.
Quando a luz acende é uma tristeza (trapo, presa),
Minha coragem muda em cansaço.
Toda fita em série que se preza (dizem, reza)
Acaba sempre no melhor pedaço.
Autores: João Bosco, Aldir Blanc & Cláudio Tolomei
E! o chora-maré
o canta-maré,
quem vai te encantar?
E! goiamum,
Sexta da Paixão..
E! olha a palma, o pé.
Não é peixe, ou é?
O garrancho é rei
mangue pra rei
não põe luto não.
Mas tu tá com quem?
Vai contar pra quem?
E com quem contar,
grilado e só
nesse misere?
Vão gozar p quê?
Vai viver de quê?
quando engrossar
quem vai lembrar
de te socorrer?
Quando passar mal
quem que vai entrar
nesse lodaçal cara de pau
que te acomodou?
Quando tu morrer
entre limo e sal,
só vão comentar:
"É o tal que quis
(a!) sobreviver".
Autores: João Bosco, Aldir Blanc & Paulo Emílio
O saci tém pé
o porão tem pó
São João, baião.
O cordão tem nó
a mulher xodó
e o luar dragão.
O pardal tem par
curió tem cor
mas tem alçapão.
O banzé tem luz
Cristo teve a cruz
capataz, patrão.
Mas no punhal,
escuridão:
vem dali, não vi, foi lá
Tem um homem morto,
quem será?
Louco animal
foge ao luar,
sinto o coração gelar:
uma gargalhada,
quem será?
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Pela pista fatal da Avenida Brasil
Ela volta e tem direito
A um metro de passagem.
Com um filho na barriga
De que lado da avenida
Ficará a vida dela:
Luz lilás, arrependida,
Ou sumida na favela?
De um lado da pista
Da Avenida Brasil
Ficou a infância
Nas poças de chuvas,
Ficou a pureza
De um jeito esquisito
No chão e no corpo
De um mata-mosquito.
Do lado contrário da pista fatal
Ficou o irmão
Um homem tão sério
Crivado de bala
Em flagrante adultério.
Na pista fatal da Avenida Brasil
Se cumpra o destino desta balconista:
Corpo atropelado
Se cumpre sem lado no meio da pista.
No fim da promessa
A verdade de m dia
De que aquele amor jamais acabaria
Como o cheiro de podre daquela avenida
Como o brilho de fogo
Da refinaria.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Alferes, Vila Rica em sombras
Espera pelo batizado,
E a derrama pesa sobre as lajes e a procissão.
Vila Rica reza rente aos muros da guarnição.
O por do sol apagou os sinos:
Dez vidas dar.
Ai Marília, as liras e o amor
Ninguém consegue enforcar
E a mesma voz virá
De muito além do desterro e do sal,
Mais do que foi.
Alferes, Ouro Preto em sombras
Espera pelo batizado,
Ainda que tarde sobre a morte do sonhador
Ainda que tarde sobre as bocas do traidor.
Raios de sol brilharão nos sinos:
Dez vias dar;
Ai Marília, as liras e o amor
Não posso mais sufocar
E a minha voz irá
Pra muito além do desterro e do sal,
Maior que a voz do rei.
Autores: João Bosco & Paulo Emílio
Amon, Rá, Amem pai
Que dia de festa de rei.
Abriu sol, abriu céu
Quem março melaço que fez.
A mesa de gala.
A pompa da sala.
O vinho escorre
Na ponta da faca (há há há há heim)
A pata afunda
Empina, galopa
Rebola, revira
Relincha risonha
(arreia rá brida do meu cavalo).
Amom Rá, Amém pai
Que demo gracinha de rei.
Amainai, animai
A festa não deve acabar
O lombo dourado
A taça cruzada
A perna de fora
Espada de lado (há há há há heim)
Corneta calada
Vigia tombado
O riso, o beijo
O sono e a morte
(arreia rá sela do meu cavalo)
(arreia rá sela do meu cavalo)
Deixa, espera, vem, vai, agora, vai...
Vai chegar, vai chegar.
O cavalo novo vai chegar
O cavalo novo já vem lá
O cavalo novo sem rei
Repele, rebate
Resiste, combate
Recebe, revida
Acaba com baile (há há há há heim)
A mula, o asno
A besta, o burro
O fogo, a fuga
O grifo da fera.
Depressa acabou a festa da cavalada ...