Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Dotô,
jogava o Flamengo, eu queria escutar.
Chegou,
mudou de estação, começou a cantar.
Tem mais,
um cisco no olho, ela em vez de assoprar,
sem dó,
falou que por ela eu podia cegar.
Se eu dou
um pulo, um pulinho, um instantinho no bar,
bastou,
durante dez noites me faz jejuar.
Levou
as minhas cuecas prum bruxo rezar.
Coou
meu café na café na calça pra mês segurar.
Se eu to
Devendo dinheiro e vêm me cobrar,
dotô,
a peste abre a porta e ainda manda sentar.
Depois,
se eu mudo de emprego que é pra melhorar,
vê só,
convida a mãe dela pra ir morar lá.
Doto,
se eu peço feijão, ela deixa salgar.
Calor,
mas veste casaco pra me atazanar.
E ontem,
Sonhando comigo, mandou eu jogar
no burro
e deu na cabeça a centena e o milhar.
Autores: Martinho da Vila & João Bosco
Odilê, odilá
O que vem fazer aqui meu irmão
Vim sambar
Ô di lê, ô di lá
Que vem fazer aqui meu irmão
Vim sambar, obá
Entra na corrente
Corpo, mente
Coração, pulmão
Pra junto com a gente viajar
Na energia-som
Que veio de longe atravessou raio e trovão
Pra cair no samba e receber a vibração
Odilê, odilá...
Com a negrada do Harlem Jesus Cristo
Também vem
E pra sair do transe só com sino de Belém
Que faz romaria e procissão, samba também
E quem ta comigo, ta com o povo do além
Odilê, odilá...
Quem samba, se sobe tem combá tem furufim
Teve um olho d´água
E um sorrido de marfim
Se volta beijada é pigmeu ou curumim
Vira um preto velho pra sambar com a gente assim
Odilê, odilá...
Preta velha bate pé, bate colhe levanta pó
Dá marafo pro Odilê e solta logo seu gogó
Odilá de madrugada nem sem viola ta só
Pois ta com axá da velha nega preta sua vó
Odilê, odilá...
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Roncou, roncou,
roncou de raiva a cuíca,
roncou de fome ...
alguém mandou,
mandou parar.
- A cuíca é coisa dos home.
A raiva dá pra parar, pra interromper.
A fome não dá pra interromper.
A fome e a raiva é coisa dos home.
A fome tem que ter raiva pra interromper.
A raiva é a fome de interromper.
A fome e a raiva é coisa dos home,
é coisa dos home,
é coisa dos home,
a raiva e a fome
mexendo a cuíca
vai ter que roncar.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Cama arruma a cama arruma a cama
Cama arruma a cama arruma a cama
Cana apanha a cana apanha a cana
Cana apanha a cana apanha a cana
Trama arruma a trama arruma a trama
Trama arruma a trama arruma a trama
Tranca arromba a tranca arromba a tranca
Tranca arromba a tranca arromba a tranca
Zanga atiça a zanga atiça a zanga
Zanga atiça a zanga atiça a zanga
Fogo ateia o fogo ateia o fogo
Fogo ateia o fogo ateia o fogo
Ponta afia a ponta afia a ponta
Ponta afia a ponta afia a ponta
Canto apruma o canto apruma o canto
Canto apruma o canto apruma o canto.
os soldados vem buscá
os esclavo do sinhô
é preciso se cuidá
cum ataque do invasor
garra prá lutá
fossa pá cavá
lenha pá acendê
ramo pá cortá
fio pá tecê
arco pá fazê
pedra pá jogá
faca pá amolá
água pá fervê
vamos disfarçar vamos preparar vamos devolver
eh camacana eh camacana eh camacana eh
eh tramatranca eh tramatranca eh tramatranca eh
eh zangafogo eh zangafogo eh zangafogo eh
eh pontacanto eh pontacanto eh pontacanto eh
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Nas escadas da Penha
Penou no cotoco de vela
Velou a doideira da chama
Chamou o seu anjo-de-guarda
Guardou o remorso num canto
Cantou a mentira da nega
Negou o ciúme que mata
Matou o amigo de ala.
Tá lá
Tá lá o valete
No meio das cartas
No jogo dos búzios,
Tá lá no risco da pemba,
No giro da pomba,
No som do atabaque,
Tá lá.
E tá no cigarro, no copo de cana
Na roda de samba, tá lá
Nos olhos da nega na faca do crime
No caco do espelho no gol do seu time...
Tá lá o amigo de ala
O amigo de ala
Matou o ciúme que mata
Negou a mentira da nêga
Cantou o remorso num canto
Guardou o seu anjo-de-guarda
Chamou a doideira da chama
Velou no cotoco da vela
Penou nas Escadas da Penha
Autores: João Bosco & Abel Silva
Quem quer viver um amor
Mas não quer suas marcas
Qualquer cicatriz
Ah, ilusão, o amor
Não é risco na areia
Desenho de giz
Eu sei que vocês vão dizer
A questão é querer
Desejar, decidir
Aí, diz o meu coração
Que prazer tem bater
Se ela não vai ouvir
Aí minha boca me diz
Que prazer tem sorrir
Se ela não me sorrir também
Quem pode querer ser feliz
Se não for por um bem
De amor
Eu sei que vocês vão dizer
A questão é querer
Desejar, decidir
Aí diz o meu coração
Que prazer tem bater
Se ela não vai ouvir
Cantar, mas me digam pra quê
E o que vou sonhar
Só querendo escapar à dor
Quem pode querer ser feliz
Se não for por amor
Autores: João Bosco & Waly Salomão
Eu já esqueci você tento crer
seu nome sua cara seu jeito seu odor
sua casa sua cama seu suor
Eu pertenço à raça da pedra dura
Quando enfim juro que esqueci
quem se lembra de você em mim em mim
não sou eu, sofro e sei
não sou eu, finjo que não sei, não sou eu
Sonho bocas que murmuram
tranço em pernas que procuram, enfim...
Não sou eu, sofro e sei
Quem se lembra de você em mim, eu sei...
Bate é na memória da minha pele
Bate é no sangue que bombeia na minha veia
Bate é no champagne que borbulhava na sua taça
e que borbulha agora na taça da minha cabeça
Eu já esqueci você, tento crer
nesses lábios que meus lábios sugam de prazer
sugo sempre, busco sempre a sonhar em vão
cor vermelha sua boca
coração.
Autores: João Bosco
Aqui meu irmão
Ela é coisa rara de ver
É jóia do Xá
Retina de um mar
De olhar verde já derramante
- Abriu-se Sézamo em mim!
Ah, meu irmão
Áqualouca tara que tem imã
Mergulha no ar
Me arrasta, me atrai
Pro fundo do oceano que dá
Pra lá de Babá
Pra cá de Ali...
Pedra que lasca seu brilho
E queima no lábio
Um quilate de mel
E que deixa na boca melante
Um gosto de língua no céu
Luz, talismã
Misterioso Cubanacã
Delicia sensual de Maça
Saborosa Manhã...
Vou te eleger
Vou me despejar de prazer
Essa noite o que mais quero é ser
Mil e um pra você.
Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão
Dia e noite
(como posso)
explicar
meu bem?)
busco a saída
de emergência
sem achar
Sem ao menos
escutar você mentir
como é que eu posso conseguir
dormir?
Na vida que tracei
alguns meses atrás
já não cabia cataclismas mais
Sua boca
tem um jeito
de fundir
o mais profundo
ao superficial
Nos seus olhos
e maneira
de sorrir
eu vi
o impossível
o possível
o real
Sem ao menos escutar você mentir pra mim
me diz meu bem
como é que eu faço pra dormir?
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Pagode em Cocotá
Via a nega rebolá
Num preta-porter de tafetá
Beijei meu patuá
Ói, samba, Oi, ulalá
Mé carrefour, o randevú vai começa
Além de me empurrá
"Kes que sê, tamanduá?
Purquá jé suí du zanzibar"
Aí, eu me criei: pás de bafo, meu bombom
Pra que zanga?
Sou primo do Villegagon
Voalá e çavá, patati, patatá
Boulevar, sarava, vim da Praça Mauá
Dendê, matinê, bambolê
Encaçapo você.
Taí, seu Mitterrand
Marcamos pra amanhã em Paquetá
Num flamboyant em fleur
Onde eu vou ter colher.
Pompadú? Zulu
Manjei toa bocú!...
Autores: João Bosco & Francisco Bosco
Tem dor de dente, dor-de-cotovelo
Tem dor em tudo que é lugar
Dor de barriga, asia, queimação
Tem a dor-de-facão
Mais conhecida por “de veado”
Calo, nó, tostão ou dor muscular
E bico-de-papagaio
Dor de cabeça, sinusite, febre
Cólica, enxaqueca, mas vai melhorar, porque
Pra toda dor existe um bom remédio
Toma, deita, espera, tenta esquecer
Mas na verdade tenho que dizer
Tem uma dor tão vil
Que dói só de pensar
Você não sabe amigo o que é levar
Um Benzetacil naquele lugar
Ai, ai, ai…
Esparadrapo, calminex, gelo
Boldo, sal de frutas, cafuné de mãe, não tem
Nenhum remédio pra essa dor maldita
Vira, abaixa as calça, entrega a Deus e amém
Autores: João Bosco, Paulo Emílio & Aldir Blanc
Toca de tatu, lingüiça e paio, boi zebú,
rabada com angú, rabo de saia.
Naco de perú, lombo de porco com tutu
e bolo de fubá, barriga d´água.
Há um diz que tem e no balaio tem também
um som bordão bordando o som, dedão, violação.
Diz um diz que viu e no balaio viu também
um pega lá no toma lá dá cá do samba.
Caldo de feijão, um vatapá, um coração.
Boca de siri, um namorado, um mexilhão.
Água de benzê, linha de passe, um chimarrão,
Babaluaê, rabo de arraia e confusão...
Valeu, valeu, Dirceu do seu gato deu...
Cana e cafuné, fandango e cassulê,
sereno e pé no chão, bala, candomblé,
e meu café, cadê? Não tem, vai pão com pão.
Já era a Tirolesa, o Garrincha, a Galeria,
a Mayrink Veiga, o Vai-da-Valsa, e hoje em dia
rola a bola, é sola, esfola, cola, é pau a pau,
e lá vem Portellas que nem Marquês de Pombal.
Mal, isso assim vai mal, mas viva o carnaval,
Lights e sarongs, bondes, louras, King-Kongs,
meu pirão primeiro é muita marmelada,
puxa-saco, cata-resto, pato, jogo-de-cabresto
e a pedalada quebra outro nariz,
na cara do juiz.
Aí, há quem faça uma cachorrada
E fique na banheira, ou jogue pra torcida,
Feliz da vida.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Meu coração tropical
está coberto de neve, mas,
ferve em seu cofre gelado
e a voz vibra e a mão escreve: mar.
Bendita a lâmina grave
que fere a parede e trás
as febres loucas e breves
que mancham o silêncio e o cais.
Roseirais! Nova Granada de Espanha!
Por você, eu, teu corsário preso
vou partir a geleira azul da solidão
e buscar a mão do mar,
me arrastar até o mar,
procurar o mar.
Mesmo que eu mande em garrafas
mensagens por todo o mar,
meu coração tropical
partirá esse gelo e irá
com as garrafas de náufrago...
e as rosas partindo o ar!
Nova Granada de Espanha
e as rosas partindo o ar!
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Caía
a tarde feito um viaduto
e um bêbado trajando luto
me lembrou Carlitos.
A lua,
tal qual a dona do bordel,
pedia a cada estrela fria
um brilho de aluguel.
E nuvens,
lá no mata-borrão do céu,
chupavam manchas torturadas
- que sufoco!
Louco,
o bêbado com chapéu-côco
fazia irreverências mil
pra noite do Brasil, meu Brasil
que sonhava com a volta do irmão do Henfil,
com tanga gente que partiu
num rabo-de-foguete.
Chora a nossa pátria, mãe gentil,
Choram Marias e Clarisses
no solo do Brasil.
Mas sei que uma dor assim pungente
não há de ser inutilmente,
a esperança, dança
na corda-bamba de sombrinha
em cada passo dessa linha
pode se machucar.
Azar! A esperança equilibrista
sabe que o show de todo artista
tem que continuar.
Autores: João Bosco & Abel Silva
Coração
Sem perdão
Diga, fale por mim
Quem roubou toda minha alegria
(o amor me pegou)
Me pegou pra valer
Aí que a dor do querer
Muda o tempo e a maré
Vendaval sobre o mar azul
Tantas vezes chorei
Quase desesperei
E jurei nunca mais seus carinhos
(ninguém tira do amor)
Ninguém tira, pois é
Nem doutor, nem pajé
O que queima e seduz, enlouquece:
O veneno da mulher
O amor quando acontece
A gente esquece logo
Que sofreu um dia
Ilusão
O meu coração marcado
Tinha um nome tatuado
Que ainda doía
Pulsava só a solidão
O amor quando acontece
A gente esquece logo
Que sofreu um dia
Esquece sim
Quem manda chegar tão perto
S era certo outro engano
Coração cigano
Agora eu choro assim
Autores: João Bosco & Capinam
Cores do mar
Festa do sol
Vida é fazer
Todo sonho brilhar
Ser feliz
No teu colo dormir
E depois acordar
Sendo seu colorido brinquedo de papel marche
Dormir no teu colo
É tornar a nascer
Violeta e azul
Outro ser
Luz do querer
Não vai desbotar
Lilás cor do mar
Seda cor de batom
Arco-íris crepom
Nada vai desbotar
Brinquedo de papel marché.