18 de setembro de 2017 Artist Image

Songbooks I

  • Caca a Raposa - Milton Nascimento

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    O olhar dos cães, a mão nas rédeas
    E o verde da floresta
    Dentes brancos, cães
    A trompa ao longe, o riso
    Os cães, a mão na testa:
    O olhar procura, antecipa
    A dor no coração vermelho
    Senhoritas, seus anéis, corcéis
    E a dor no coração vermelho
    O rebenque estala, um leque aponta: foi por lá!...
    Um olhar de cão, as mãos são pernas
    E o verde da floresta
    - Oh, manhã entre manhãs! -
    A trompa em cima, os cães
    Nenhuma fresta
    O olhar se fecha, uma lembrança
    Afaga o coração vermelho:
    Uma cabeleira sobre o feno
    Afoga o coração vermelho
    Montarias freiam, dentes brancos: terminou...
    Línguas rubras dos amantes
    Sonhos sempre incandescentes
    Recomeçam desde instantes
    Que os julgamos mais ausentes
    Ah, recomeçar, recomeçar
    Como canções e epidemias
    Ah, recomeçar como as colheitas
    Como a lua e a covardia
    Ah, recomeçar como a paixão e o fogo

  • Bala com Bala - Edu Lobo

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    A sala cala e o jornal prepara quem está na sala
    Com pipoca e com bala ¾ e o urubu sai voando
    O tempo corre e o suor escorre, vem alguém de porre
    Há um corre-corre, e o mocinho chegando, dando.
    Eu esqueço sempre nesta hora (linda, loura)
    Minha velha fuga em todo impasse;
    Eu esqueço sempre nesta hora (linda loura)
    Quanto me custa dar a outra face.
    O tapa estala no balacobaco e é fala com fala
    E é bala com bala e o galã se espalhando, dando.
    No rala-rala quando acaba a bala é faca com faca
    É rapa com rapa e eu me realizando, bambo.
    Quando a luz acende é uma tristeza (trapo, presa),
    Minha coragem muda em cansaço.
    Toda fita em série que se preza (dizem, reza)
    Acaba sempre no melhor pedaço.

  • Incompatibilidade de Genios - Chico Buarque

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Dotô,
    jogava o Flamengo, eu queria escutar.
    Chegou,
    mudou de estação, começou a cantar.
    Tem mais,
    um cisco no olho, ela em vez de assoprar,
    sem dó,
    falou que por ela eu podia cegar.
    Se eu dou
    um pulo, um pulinho, um instantinho no bar,
    bastou,
    durante dez noites me faz jejuar.
    Levou
    as minhas cuecas prum bruxo rezar.
    Coou
    meu café na café na calça pra mês segurar.
    Se eu to
    Devendo dinheiro e vêm me cobrar,
    dotô,
    a peste abre a porta e ainda manda sentar.
    Depois,
    se eu mudo de emprego que é pra melhorar,
    vê só,
    convida a mãe dela pra ir morar lá.
    Doto,
    se eu peço feijão, ela deixa salgar.
    Calor,
    mas veste casaco pra me atazanar.
    E ontem,
    Sonhando comigo, mandou eu jogar
    no burro
    e deu na cabeça a centena e o milhar.

  • Latin Lover - Luiz Melodia

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Nos dissemos
    que o começo é sempre,
    sempre inesquecível,
    e, no entanto, meu amor, que coisa incrível,
    esqueci nosso começo inesquecível.
    Mas me lembro
    de uma noite ¾ sua mãe tinha saído,
    me falaste de um sinal adquirido
    numa queda de patins em Paquetá:
    ¾ mostra... doeu?... ainda dói?...
    A voz mais rouca,
    e os beijos,
    cometas percorrendo o céu da boca...
    As lembranças
    acompanham até o fim um latin lover,
    que hoje morre,
    sem revólver, sem ciúmes, sem remédio,
    de tédio.

  • O Rancho da Goiabada - Zelia Duncan e Pedro Luiz

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Os bóias-frias
    quando tomam umas birita
    espantando a tristeza,
    sonham com bife-a-cavalo,
    batata-frita e a sobremesa
    é goiabada-cascão com muito queijo,
    depois café, cigarro e um beijo
    de uma mulata chamada Leonor
    ou Dagmar.
    Amar
    o rádio-de-pilha,
    o fogão-jacaré, a marmita,
    o domingo, o bar,
    onde tantos iguais se reúnem
    contando mentiras
    pra poder suportar...
    ai, são pais-de-santo,
    paus-de-arara, são passistas,
    são flagelados,
    são pingentes, balconistas,
    palhaços, marcianos,
    canibais, lírios, pirados,
    dançando-dormindo
    de olhos-abertos à sombra
    da alegoria
    dos faraós embalsamados.

  • Coisa Feita - Alcione

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Sou bem mulher
    de pegar macho pelo pé
    reencarnação
    da princesa do Daomé.
    Eu sou marfim
    lá das minas do Salomão,
    me esparramo em mim
    lua cheia sobre o carvão.
    Um mulherão,
    balangandãs, cerâmica e sisal,
    língua assim
    a conta certa entre a baunilha e o sal,
    fogão de lenha,
    garrafa de areia colorida,
    pedra-sabão,
    peneira e água boa de moringa.
    Sou de arrancar couro,
    de farejar ouro,
    Princesa o Daomé.
    Sou coisa feita,
    se o malandro se aconchegar
    vai morrer na esteira
    maré sonsa de Paquetá.
    Sou coisa benta,
    se provar do meu aluá
    bebe o Pólo Norte
    bem tirado do Samovar.
    Neguinho assim, ó!
    Já escreveu atrás do caminhão:
    "mulher que a gente não se esquece
    é lá do Daomé".
    Faço mandinga,
    fecho os caminhos com as cinzas,
    deixo biruta, lelé da cuca,
    zuretão, ranzinza...
    Pra não ficar bobo
    Melhor fugir logo,
    sou de pegar pelo pé.
    Sou avatar, Vodu,
    sou de botar fogo,
    Princesa do Daomé.

  • Assim Sem Mais - Moska e Jacques Morelenbaum

    Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão

    Certa hora você me encarou:
    bateu bem fundo
    e pensei ter descoberto por que
    correra mundo,
    procurando o tempo todo tão só
    na multidão
    até encontrar
    alguém
    que bastasse para me povoar
    a solidão.
    Logo esfrego os olhos:
    tudo é ilusão.
    Cedo cedo será tarde.
    Não se engane, não me queixo disso não:
    sua imagem arde
    nas noites de solidão.
    Por que é que não consigo viver
    feito os demais
    entre álbuns de família, bens, trens,
    mobília e paz?
    Por que é que eu preciso partir
    assim sem mais?
    Quem me dirá
    por que,
    por que é que não consigo viver
    feito os demais?

  • Indeciso Coracao - Leila Pinheiro e Joao Donato

    Autores: João Bosco

    Solidão e liberdade
    Soledade uma paixão
    Que adio sine die
    Por ter não
    Essa tal razão
    Que vem com a idade
    Que vem com a felicidade
    Que vem de outra ilusão
    Doida vez por outra
    Mesmo doida
    Por não ter o que fazer
    Com esse indeciso coração
    Fico assim
    Sem saber
    Quem saber terá
    Pra me dizer
    Pois a vida diz
    Que não tem tempo
    Que o amor é coisa de momento
    É quando rola um turbilhão
    Todo coração tem movimento
    O que pra mim
    Já é uma intenção

  • Das Dores de Oratorios - Zeca Baleiro

    Autores: João Bosco

    "Porque o amor é como fogo,
    Se rompe a chama
    Não há mais remédio"
    Foi por amar
    Que ela iô iô iô
    Se amasiou com a tal solidão do lugar.
    Foi por amar
    Que ela iô iô iô
    Só pecou nas noites de sonho ao gozar.
    Foi por amar
    Que ela iô iô iô
    Só ficou só
    Ele a deixou
    Só ficará... hum! Foi por amar!
    Foi no altar
    Que ela iô iô iô
    Noiva que um andor podia carregar.
    Foi no altar
    Que ela iô iô iô
    Dor que a própria dor de Das Dores será.
    Foi no altar
    Que ela iô iô iô
    Não virá?
    Não.
    Ele virá...
    Não, não virá... hum! Foi no altar
    Era um lugar
    Era iô iô iô
    Salvador Maria de Antonio e Pilar.
    Era um lugar
    Era iô iô iô
    Seixo que gastou de tanto esperar.
    Louca a gritar
    Ela iô iô iô
    Esquecer, quem há de esquecer
    O sol dessa tarde... hum! Sol a gritar.

  • A Nivel de - Chico Cesar

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Vanderley e Odilon
    são muito unidos
    e vão pro Maracanã
    todo domingo
    criticando o casamento
    e o papo mostra
    que o casamento anda uma bosta...
    Yolanda e Adelina
    são muito unidas
    e fazem companhia
    todo domingo
    que os maridos vão pro jogo.
    Yolanda aposta
    que assim a nível de Proposta
    o casamento anda uma bosta
    e a Adelina não discorda.
    Estruturou-se um troca-troca
    e os quatro: hum-hum... oqué... tá bom... é...
    Só que Odilon, não pegando bem a coisa,
    agarrou o Vanderley e a Yolanda ó na Adelina.
    Vanderley e Odilon
    bem mais unidos
    empataram capital
    e estão montando
    restaurante natural
    cuja proposta
    é cada um come o eu gosta.
    Yolanda e Adelina
    bem mais unidas
    acham viver um barato
    e pra provar
    tão fazendo artesanato
    e pela amostra
    Yolanda aposta na resposta.
    E Adelina não discorda
    que pinta e borda com o que gosta.
    É positiva essa proposta
    de quatro: hum-hum... oquéi... tá bom... é...
    Só que Odilon
    ensopapa o Vanderley com ciúme
    e Adelina dá na cara de Yoyô...
    Vanderley e Odilon
    Yolanda e Adelina
    cada um faz o que gosta
    e o relacionamento... continua a mesma bosta!

  • Mama Palavra - Arnaldo Antunes

    Autores: João Bosco-Francisco Bosco

    Se disparada pelo amor
    Palavra-bala
    Na boca do ditador
    Toda palavra cala
    Ô, mama
    Cala palavra
    Ô, mama, ô, mama
    Mama palavra

    Quando não se quer ouvir
    Palavra-mala
    Quando não se faz sentir
    Pobre palavra rala
    Ô, mama
    Rala palavra
    Ô, mama, ô, mama
    Mama palavra

    Em volta da mesa do bar
    Palavra-porre
    Se o tédio me assaltar
    Palavra me socorre
    Ô, mama
    Cada palavra
    Ô, mama, ô, mama
    Mama palavra

    Se gritar pega ladrão
    Palavra corre
    Quando não se tem tesão
    Toda palavra morre
    Ô, mama
    Morre a palavra
    Ô, mama, ô, mama
    Mama palavra

    Mãe de todos nós
    Dos sem mãe
    Dos sem voz

    Na fala do policial
    Palavra-malha
    No Distrito Federal
    Toda palavra encalha
    Toda palavra encalha

    Aquela que não funcionar
    Palavra-falha
    Aquela que não se juntar
    Vira palavra-tralha
    Tralha

    Quando tudo fala igual
    Palavra-palha
    Pra tudo que é marginal
    Palavra que batalha
    Palavra que batalha

    Aquela que não funcionar
    Palavra-falha
    Aquela que não se juntar
    Vira palavra-tralha
    Tralha

  • Memoria da Pele - Rosa Passos e Lula Galvao

    Autores: João Bosco & Waly Salomão

    Eu já esqueci você tento crer
    seu nome sua cara seu jeito seu odor
    sua casa sua cama seu suor
    Eu pertenço à raça da pedra dura
    Quando enfim juro que esqueci
    quem se lembra de você em mim em mim
    não sou eu, sofro e sei
    não sou eu, finjo que não sei, não sou eu
    Sonho bocas que murmuram
    tranço em pernas que procuram, enfim...
    Não sou eu, sofro e sei
    Quem se lembra de você em mim, eu sei...
    Bate é na memória da minha pele
    Bate é no sangue que bombeia na minha veia
    Bate é no champagne que borbulhava na sua taça
    e que borbulha agora na taça da minha cabeça
    Eu já esqueci você, tento crer
    nesses lábios que meus lábios sugam de prazer
    sugo sempre, busco sempre a sonhar em vão
    cor vermelha sua boca
    coração.

  • Siameses - Leny Andrade e Emilio Santiago

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    (ele)
    Amiga inseparável,
    rancores siameses
    nos unem pelo olhar.
    Infelizes pra sempre
    Em comunhão de males
    obrigação de amar.
    E amas em mim a cruel indiferença.
    Aspiro em ti a maldade e a doença.
    Vives grudada em mim,
    gerando a pedra
    em teu ventre de ostra
    e eu conservo o fulgor do nosso ódio
    estreitando a velha concha...
    Amiga inseparável,
    tu és meu acaso
    e por acaso eu sou tua sina,
    somos sorte e azar,
    tu és minha relíquia,
    seu sou tua ruína.
    (ela)
    Vivo grudada em ti,
    gerando a pedra
    em meu ventre de ostra.
    Conservas o fulgor do nosso ódio
    estreitando a velha concha...
    Amigo inseparável,
    eu sou teu acaso
    e por acaso tu és minha sina,
    somos sorte e azar,
    eu sou tua relíquia,
    tu és minha ruína.

  • O Bebado e a Equilibrista - Aldir Blanc e Joao Bosco

    Autores: João Bosco & Aldir Blanc

    Caía
    a tarde feito um viaduto
    e um bêbado trajando luto
    me lembrou Carlitos.
    A lua,
    tal qual a dona do bordel,
    pedia a cada estrela fria
    um brilho de aluguel.
    E nuvens,
    lá no mata-borrão do céu,
    chupavam manchas torturadas
    - que sufoco!
    Louco,
    o bêbado com chapéu-côco
    fazia irreverências mil
    pra noite do Brasil, meu Brasil
    que sonhava com a volta do irmão do Henfil,
    com tanga gente que partiu
    num rabo-de-foguete.
    Chora a nossa pátria, mãe gentil,
    Choram Marias e Clarisses
    no solo do Brasil.
    Mas sei que uma dor assim pungente
    não há de ser inutilmente,
    a esperança, dança
    na corda-bamba de sombrinha
    em cada passo dessa linha
    pode se machucar.
    Azar! A esperança equilibrista
    sabe que o show de todo artista
    tem que continuar.

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