Autores: João Bosco-Francisco Bosco
Se disparada pelo amor
Palavra-bala
Na boca do ditador
Toda palavra cala
Ô, mama
Cala palavra
Ô, mama, ô, mama
Mama palavra
Quando não se quer ouvir
Palavra-mala
Quando não se faz sentir
Pobre palavra rala
Ô, mama
Rala palavra
Ô, mama, ô, mama
Mama palavra
Em volta da mesa do bar
Palavra-porre
Se o tédio me assaltar
Palavra me socorre
Ô, mama
Cada palavra
Ô, mama, ô, mama
Mama palavra
Se gritar pega ladrão
Palavra corre
Quando não se tem tesão
Toda palavra morre
Ô, mama
Morre a palavra
Ô, mama, ô, mama
Mama palavra
Mãe de todos nós
Dos sem mãe
Dos sem voz
Na fala do policial
Palavra-malha
No Distrito Federal
Toda palavra encalha
Toda palavra encalha
Aquela que não funcionar
Palavra-falha
Aquela que não se juntar
Vira palavra-tralha
Tralha
Quando tudo fala igual
Palavra-palha
Pra tudo que é marginal
Palavra que batalha
Palavra que batalha
Aquela que não funcionar
Palavra-falha
Aquela que não se juntar
Vira palavra-tralha
Tralha
Autores: João Bosco, Antônio Cícero & Waly Salomão
Dias sem carinho
Só que não me desespero:
Rango alumínio
Ar, pedra, carvão e ferro.
Eu lhe ofereço
Essas coisas que enumero:
Quando fantasio
É quando sou mais sincero
Desde o fim da nossa história
Eu já segui navios
Aviões e holofotes
Pela noite afora.
Me fissurarm tantos signos
E selvas, portos, places,
Línguas, sexos, olhos
De amazonas que inventei.
Eis a Babilônia, amor,
E eis Babel aqui:
Algo da insônia
Do seu sonho antigo em mim.
Eis aqui
O meu presente
De navios
E aviões
Holofotes
Noites afora
E fissuras
E invenções:
Tudo isso
É pra queimar-se
Combustível
Pra se gastar
O carvão
O desespero
O alumínio
E o coração
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Roncou, roncou,
roncou de raiva a cuíca,
roncou de fome ...
alguém mandou,
mandou parar.
- A cuíca é coisa dos home.
A raiva dá pra parar, pra interromper.
A fome não dá pra interromper.
A fome e a raiva é coisa dos home.
A fome tem que ter raiva pra interromper.
A raiva é a fome de interromper.
A fome e a raiva é coisa dos home,
é coisa dos home,
é coisa dos home,
a raiva e a fome
mexendo a cuíca
vai ter que roncar.
Autores: João Bosco & Francisco Bosco
Quem planta fogo
Colhe pé de queimadura
Põe na boca a fruta dura
Professora do falar
Palavra é feito
Uma moeda condenada
Pra cunhar se gasta tudo
Pra vender não vale nada
Quem vem de lá ?
É uma voz, deixa entrar
Quem te mandou ?
Isso eu não posso te contar
Que quer aqui ?
Eu vim me oferecer
Que que cê faz ?
Eu sei me presentear
Que que ce dá?
Pisadeira
Cobra-encantada
Folha de gravatá
Mãe da lua
Olha pra água
É o calango do mar
Porco-preto
Rastro de vento
Lâmpada de apagar
Mãe da lua
Olha pra água
É o calango do mar
A vida é longe
Não conheço outro atalho
Tem trabalho prazeroso
Tem prazer que dá trabalho
Avisa lá
Pode dizer que eu tô trocando
Vinte pássaros na mão
Por um só pássaro voando
Quem vem de lá?...
Pé de caixeiro é bola de cristal
Carta marcada de tanto andar
Esse jogo quem viver, verá
Autores: João Bosco, Paulo Emílio & Aldir Blanc
Dorival Caymmi falou para Oxum:
com Silas tô em boa companhia.
O Céu abraça a Terra,
deságua o Rio na Bahia.
Jeje
minha sede é dos rios
a minha cor é o arco-íris
minha fome é tanta
planta florimã da bandeira
a minha sina é verdeamarela
feito a bananeira.
Ouro cobre o espelho esmeralda
no berço esplêndido,
a floresta em calda,
manjedoura d´alma
labarágua, sete queda em chama,
cobra de ferro, Oxum-Maré:
homem e mulher na cama.
Jeje
tuas asas de pomba
presas nas costas
com mel e dendê
aguentam por um fio.
Sofrem
o bafio da fera,
o bombardeiro de caramuru,
a sanha de Anhanguera.
Jeje
tua boca do lixo
escarra o sangue
de outra hemoptise
no canal do Mangue.
O uirapuru das cinzas chama:
rebenta a louca, Oxum-Maré:
dança em teu mar de lama.
Autores: João Bosco-Francisco Bosco
Ah, eu fiquei...eu fiquei, eu fiquei, eu fiquei
Eu fiquei, eu fiquei, eu fiquei, eu fiquei lá ( 2x )
Eu fiquei na esquina, foi, foi na esquina
Eu fiquei, eu fiquei, eu fiquei, eu fiquei lá
Eu fiquei te esperando, foi, e ainda tô lá
Você me deu sua palavra
Disse que vinha me buscar
Na rua do fique tranqüilo
É com você que eu quero estar
Eu enfeitei sua palavra
E fui correndo te esperar
Lá na esquina da promessa
Com quem manda acreditar
Ah, eu fiquei...
Naquela tarde de setembro
O sol indo dormir no mar
Alguma coisa que eu não via
Não parava de brilhar
Eu olhei dentro dos teus olhos
E vi um lago, um laço, um lar
Minha melhor fotografia
Eu nunca pude revelar
Ah, eu fiquei...
Quando eu senti que despencava
Eu te pedi pra me ajudar
Você jogou sua palavra
Pra eu poder me segurar
Tua palavra não é corda
Só fui saber em pleno ar
Teu coração não tem janela
Pra você se debruçar
Ah, eu fiquei...
Eu hoje ando pelas ruas
Mas nunca saio do lugar
Até um poste de concreto
Eu vejo me ultrapassar
E quando falam de passado
Me sinto um louco a delirar
Nunca passei daquela esquina
Quem mandou acreditar
Ah, eu fiquei...
Autores: João Bosco & Abel Silva
Quem quer viver um amor
Mas não quer suas marcas
Qualquer cicatriz
Ah, ilusão, o amor
Não é risco na areia
Desenho de giz
Eu sei que vocês vão dizer
A questão é querer
Desejar, decidir
Aí, diz o meu coração
Que prazer tem bater
Se ela não vai ouvir
Aí minha boca me diz
Que prazer tem sorrir
Se ela não me sorrir também
Quem pode querer ser feliz
Se não for por um bem
De amor
Eu sei que vocês vão dizer
A questão é querer
Desejar, decidir
Aí diz o meu coração
Que prazer tem bater
Se ela não vai ouvir
Cantar, mas me digam pra quê
E o que vou sonhar
Só querendo escapar à dor
Quem pode querer ser feliz
Se não for por amor
Autores: João Bosco & Francisco Bosco
ENQUANTO ESPERO ACONTECER
ENQUANTO ESPERO VER NO CAIS
VOU DERRAMANDO SEM QUERER
A FEBRE DOS MEUS AIS
HÁ MUITO TEMPO AMOR
QUE EU TRAGO DOR DENTRO DO PEITO
HÁ MUITO TEMPO A COR
DA SOLIDÃO TINGIU-ME O LEITO
HÁ TANTO TEMPO ASSIM
SÓ EU DENTRO DE MIM
A PROCURAR POR NÓS
E APENAS UMA VOZ
RESPONDE ESTÃO AGORA
O VAZIO E A SAUDADE A SÓS
HÁ MUITO TEMPO AMOR
QUE EU TE SUFOCO EM PENSAMENTO
MAS QUANDO A NOITE CAI
TRAZ TUA IMAGEM COMO UM VENTO
FAZ TANTO FRIO AQUI
SÓ EU DENTRO DE MIM
A PROCURAR POR NÓS
E APENAS UMA VOZ
RESPONDE ESTÃO AGORA
O VAZIO E A SAUDADE A SÓS
NAVEGO UM MAR DE FADO AZUL
ANGÚSTIA DE UM BOLERO
VERSADO EM SOMBRAS, MEIA LUZ
SOLUÇO NO MEU CANTO
UMA CANÇÃO ENQUANTO ESPERO
NAVEGO UM MAR DE FADO AZUL
ANGÚSTIA DE UM BOLERO
VERSADO EM SOMBRAS, MEIA LUZ
SOLUÇO NO MEU CANTO
UMA CANÇÃO ENQUANTO ESPERO
ENQUANTO ESPERO ACONTECER
ENQUANTO ESPERO VER NO CAIS
VOU DERRAMANDO SEM QUERER
A FEBRE DOS MEUS AIS
NAVEGO UM MAR DE FADO AZUL
ANGÚSTIA DE UM BOLERO
VERSADO EM SOMBRAS, MEIA LUZ
SOLUÇO NO MEU CANTO
UMA CANÇÃO ENQUANTO ESPERO
Autores: João Bosco & Waly Salomão
Eu já esqueci você tento crer
seu nome sua cara seu jeito seu odor
sua casa sua cama seu suor
Eu pertenço à raça da pedra dura
Quando enfim juro que esqueci
quem se lembra de você em mim em mim
não sou eu, sofro e sei
não sou eu, finjo que não sei, não sou eu
Sonho bocas que murmuram
tranço em pernas que procuram, enfim...
Não sou eu, sofro e sei
Quem se lembra de você em mim, eu sei...
Bate é na memória da minha pele
Bate é no sangue que bombeia na minha veia
Bate é no champagne que borbulhava na sua taça
e que borbulha agora na taça da minha cabeça
Eu já esqueci você, tento crer
nesses lábios que meus lábios sugam de prazer
sugo sempre, busco sempre a sonhar em vão
cor vermelha sua boca
coração.
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Sou bem mulher
de pegar macho pelo pé
reencarnação
da princesa do Daomé.
Eu sou marfim
lá das minas do Salomão,
me esparramo em mim
lua cheia sobre o carvão.
Um mulherão,
balangandãs, cerâmica e sisal,
língua assim
a conta certa entre a baunilha e o sal,
fogão de lenha,
garrafa de areia colorida,
pedra-sabão,
peneira e água boa de moringa.
Sou de arrancar couro,
de farejar ouro,
Princesa o Daomé.
Sou coisa feita,
se o malandro se aconchegar
vai morrer na esteira
maré sonsa de Paquetá.
Sou coisa benta,
se provar do meu aluá
bebe o Pólo Norte
bem tirado do Samovar.
Neguinho assim, ó!
Já escreveu atrás do caminhão:
"mulher que a gente não se esquece
é lá do Daomé".
Faço mandinga,
fecho os caminhos com as cinzas,
deixo biruta, lelé da cuca,
zuretão, ranzinza...
Pra não ficar bobo
Melhor fugir logo,
sou de pegar pelo pé.
Sou avatar, Vodu,
sou de botar fogo,
Princesa do Daomé.
Autores: João Bosco
Aqui meu irmão
Ela é coisa rara de ver
É jóia do Xá
Retina de um mar
De olhar verde já derramante
- Abriu-se Sézamo em mim!
Ah, meu irmão
Áqualouca tara que tem imã
Mergulha no ar
Me arrasta, me atrai
Pro fundo do oceano que dá
Pra lá de Babá
Pra cá de Ali...
Pedra que lasca seu brilho
E queima no lábio
Um quilate de mel
E que deixa na boca melante
Um gosto de língua no céu
Luz, talismã
Misterioso Cubanacã
Delicia sensual de Maça
Saborosa Manhã...
Vou te eleger
Vou me despejar de prazer
Essa noite o que mais quero é ser
Mil e um pra você.
Autores: João Bosco & Abel Silva
Coração
Sem perdão
Diga, fale por mim
Quem roubou toda minha alegria
(o amor me pegou)
Me pegou pra valer
Aí que a dor do querer
Muda o tempo e a maré
Vendaval sobre o mar azul
Tantas vezes chorei
Quase desesperei
E jurei nunca mais seus carinhos
(ninguém tira do amor)
Ninguém tira, pois é
Nem doutor, nem pajé
O que queima e seduz, enlouquece:
O veneno da mulher
O amor quando acontece
A gente esquece logo
Que sofreu um dia
Ilusão
O meu coração marcado
Tinha um nome tatuado
Que ainda doía
Pulsava só a solidão
O amor quando acontece
A gente esquece logo
Que sofreu um dia
Esquece sim
Quem manda chegar tão perto
S era certo outro engano
Coração cigano
Agora eu choro assim
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Meu coração tropical
está coberto de neve, mas,
ferve em seu cofre gelado
e a voz vibra e a mão escreve: mar.
Bendita a lâmina grave
que fere a parede e trás
as febres loucas e breves
que mancham o silêncio e o cais.
Roseirais! Nova Granada de Espanha!
Por você, eu, teu corsário preso
vou partir a geleira azul da solidão
e buscar a mão do mar,
me arrastar até o mar,
procurar o mar.
Mesmo que eu mande em garrafas
mensagens por todo o mar,
meu coração tropical
partirá esse gelo e irá
com as garrafas de náufrago...
e as rosas partindo o ar!
Nova Granada de Espanha
e as rosas partindo o ar!
Autores: João Bosco, Paulo Emílio & Aldir Blanc
Toca de tatu, lingüiça e paio, boi zebú,
rabada com angú, rabo de saia.
Naco de perú, lombo de porco com tutu
e bolo de fubá, barriga d´água.
Há um diz que tem e no balaio tem também
um som bordão bordando o som, dedão, violação.
Diz um diz que viu e no balaio viu também
um pega lá no toma lá dá cá do samba.
Caldo de feijão, um vatapá, um coração.
Boca de siri, um namorado, um mexilhão.
Água de benzê, linha de passe, um chimarrão,
Babaluaê, rabo de arraia e confusão...
Valeu, valeu, Dirceu do seu gato deu...
Cana e cafuné, fandango e cassulê,
sereno e pé no chão, bala, candomblé,
e meu café, cadê? Não tem, vai pão com pão.
Já era a Tirolesa, o Garrincha, a Galeria,
a Mayrink Veiga, o Vai-da-Valsa, e hoje em dia
rola a bola, é sola, esfola, cola, é pau a pau,
e lá vem Portellas que nem Marquês de Pombal.
Mal, isso assim vai mal, mas viva o carnaval,
Lights e sarongs, bondes, louras, King-Kongs,
meu pirão primeiro é muita marmelada,
puxa-saco, cata-resto, pato, jogo-de-cabresto
e a pedalada quebra outro nariz,
na cara do juiz.
Aí, há quem faça uma cachorrada
E fique na banheira, ou jogue pra torcida,
Feliz da vida.
Autores: Rube Bloom-Johnny Mercer
Tolos vão
Onde anjos temem ir
Por isso estou aqui, amor
De coração na mão
Sim, eu sei
Posso sofrer
Mas já não tenho, amor
Nada a perder
Tolos vão
Em passos de amador
Os sábios têm os pés no chão
Não sabem do amor
Foi te ver
Não pude mais voltar
Pois deixe no teu coração
Um tolo entrar
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Caía
a tarde feito um viaduto
e um bêbado trajando luto
me lembrou Carlitos.
A lua,
tal qual a dona do bordel,
pedia a cada estrela fria
um brilho de aluguel.
E nuvens,
lá no mata-borrão do céu,
chupavam manchas torturadas
- que sufoco!
Louco,
o bêbado com chapéu-côco
fazia irreverências mil
pra noite do Brasil, meu Brasil
que sonhava com a volta do irmão do Henfil,
com tanga gente que partiu
num rabo-de-foguete.
Chora a nossa pátria, mãe gentil,
Choram Marias e Clarisses
no solo do Brasil.
Mas sei que uma dor assim pungente
não há de ser inutilmente,
a esperança, dança
na corda-bamba de sombrinha
em cada passo dessa linha
pode se machucar.
Azar! A esperança equilibrista
sabe que o show de todo artista
tem que continuar.
Autores: João Bosco & Capinam
Cores do mar
Festa do sol
Vida é fazer
Todo sonho brilhar
Ser feliz
No teu colo dormir
E depois acordar
Sendo seu colorido brinquedo de papel marche
Dormir no teu colo
É tornar a nascer
Violeta e azul
Outro ser
Luz do querer
Não vai desbotar
Lilás cor do mar
Seda cor de batom
Arco-íris crepom
Nada vai desbotar
Brinquedo de papel marché.